Até um certo tempo atrás, eu tinha uma certa resistência com o gênero western. Acreditava, confesso que por puro desconhecimento, que os filmes conhecidos por nós como "faroestes" eram sempre similares e bobos, sem profundidadade ou complexidade. Isso começou a mudar quando decidi assistir clássicos de Sergio Leone, John Ford, Fred Zinnemann, dentre outros, que produziram algumas das maiores obras-primas do cinema (Era Uma Vez no Oeste, de Leone, se tornou um de meus filmes favoritos). E foi com um enorme prazer que meu primeiro filmes de um dos diretores mais lendários de Hollywood tenha sido um western: falo de Golpe de Misericórdia (1949), de Raoul Walsh.
Walsh, que começou sua carreira no cinema como assistente de direção em filmes mudos, até começar a dirigir os seus próprios (grande parte deles tratavam de gângsters, além de alguns noirs e westerns), dá claras mostras no filme analisado neste texto do grande diretor que foi. Na trama, o bandido Wes McQuenn (Joel McCrea) escapa da prisão para participar de um último crime: roubo a um trem. Na fuga, ele se torna amigo do humilde Fred Winslow (Henry Hull) e sua filha Julie Ann (Dorothy Malone), por quem Wes passa a nutrir um carinho especial. Entretanto, a gangue com a qual Wes planeja o roubo não é de confiança, e ele começa a suspeitar de que pode ser traído a qualquer momento.
O mais interessante na forma como Walsh conduz o filme, tendo como base um bom roteiro, é que em determinado momento nos vemos realmente torcendo pelo protagonista, nos esquecendo que ele é um bandido que pretende roubar centenas de milhares de dólares de um trem! Mesmo que Wes McQuenn esteja de certa forma arrependido e planeja que este seja seu último roubo, isso não elimina o fato de que seja um crime. E enquanto acompanhamos as traições de seus "amigos" da gangue e as perseguições orquestradas pelo xerife e seus capangas, nos vemos torcendo para que McQueen consiga sobreviver.
Duas cenas são particulramente muito interesantes nesse sentido. A primeira é logo no início, após a fuga dele da prisão, quando ele conhece (escondendo sua verdadeira identidade) o senhor Winslow e sua filha em uma diligência que está indo a cmainho de Colorado, no Oeste. De repente, tal diligência se torna alvo de ladrões, e Walsh dirige uma cena de perseguição e tiroteio sensacional, com o protagonista saindo como um "herói" dessa situação. E a outra é no final, quando Mc Queen é perseguido por dezenas de "homens-da-lei" e que, como já citei anteriormente, nos achamos torcendo para que ele escape.
Entre estas seqüências de ação, é uma pena que o filme sofra de um marasmo terrível pela sua metade. A trama fica um tanto estagnada, com uns diálogos realmente horrorosos, como o entre Mc Quenn e a jovem Colorado (Virginia Mayo), que também compunha a gangue. O nome Colorado, aliás, não me parece gratuito, e pode indicar uma certa ambigüidade no título original Colorado Territory, embora a personagem seja muito mal trabalhada, só tendo real importância bem no final. Os atores, aliás, não eram do primeiro escalão de estrelas da época, mas se saem muito bem, mesmo que nenhum seja particurlamente brilhante. O filme só volta aos trilhos (!!!) na cena do roubo ao trem, simplesmente sensacional, da qual não posso escrever muito sem revelar detalhes importantes. Mas é uma ação que não deixa nada a dever para os filmecos produzidos em Hollywood atualmente.
Golpe de Misericórdia é um grande trabalho de Raoul Walsh, e tenho certa vergonha em afirmar que nunca havia assistido a um único filme deste icônico diretor. E acredito que eu não poderia ter tido uma porta de entrada melhor na sua filmografia, com um belo western.
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