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Críticas

Cineplayers

Uma graciosa surpresa que deve sumir rápido dos cinemas. Não deixe escapar quando sair em vídeo.

7,0

O título original do filme (O Homem do Tempo) e o título brasileiro (O Sol de Cada Manhã), aliado a um pôster onde o personagem de Nicolas Cage está com a roupa suja com um milk-shake derramado não caracterizam bons prognósticos. Mais uma comédia barata invadindo as salas de cinema? A carreira irregular, embora positiva, do diretor Gore Verbinski, também pode deixar o espectador na dúvida. Embora muitos defendam Piratas do Caribe e a versão americana de O Chamado com unhas e dentes, há de se reconhecer que não são obras-primas. Então agradável foi a surpresa quando, logo aos 15 minutos de projeção, me senti totalmente imerso no mundo de David Spritz - um sujeito bacana, mas sem rumo algum na vida.

O ar-condicionado no máximo da sala de cinema deve ter ajudado a entrar no clima. O filme é, quase que literalmente, coberto de neve em todas as cenas - um gelo só. O clima depressivo com que David vive os acontecimentos de sua vida, então, é uma analogia perfeita à esse clima - ou vice-versa. Seu casamento não existe mais: embora ainda goste de sua esposa, ela o detesta; sua filha tem problemas com peso, fuma, e é motivo de riso no colégio; seu filho anda metido em problemas; seu pai descobre que está com problemas graves de saúde. A única luz no fim do túnel é um teste para ser o homem do tempo do programa "Hello, America", trabalhando em rede nacional em Nova York para faturar 1 milhão ao ano.

É a mistura de humor negro com drama razoavelmente pesado que faz o filme bom. Temos aqui uma graciosa mistura entre Três é Demais, de Wes Anderson, com Felicidade, de Todd Solondz. Embora conte com um diretor bastante comercial e com um ator de blockbusters, O Sol de Cada Manhã nunca deixa-se levar por bobagens superficiais, ainda que não seja um filme tão corajoso e denso quanto o conjunto dos filmes citados acima. É um filme que, mesmo com suas maciças doses de negativismo, pode fazer o espectador se sentir bem, principalmente pelo fato de ser realista, verdadeiro e, mesmo com tanto azar na vida de seu personagem principal, demonstrar que sempre haverá a velha luz no fim do túnel. David não é herói nem vilão, é apenas uma pessoa ordinária.

Há, claro, uma supervalorização do "american way of life" no meio de tudo isso. Nova York está linda (e a neve cria uma magia ainda maior em torno da metrópole), e os problemas pelos quais David sofre na realidade são culpa do próprio modo de vida americano (que nós, brasileiros, ocidentais como somos, chupamos descaradamente) - a filha obesa, o casamento que terminou por problemas banais... David, então, assim como as pessoas comuns, não vê que os grandes problemas de sua vida são originados de sua própria culpa. A falta de foco, de um objetivo central é que traz bagunça à existência das pessoas. Quando elas resolvem essa questão, as coisas começam a andar, ainda que não da forma que sonhamos. É uma mensagem simples, talvez até óbvia demais - e por isso difícil de ser enxergada com facilidade.

Faltou comentar sobre a atuação de Michael Cane, como o pai de David. O ator traz seu charme usual à tela, ainda que em um personagem bastante frio - que surpreende em sua última cena. Há um relacionamento bizarro, mas muito gostoso de se acompanhar entre pai e filho. Enfim, temos aqui um filme que deverá ser descoberto melhor em vídeo, pois foi um fracasso nas bilheterias (talvez por ser mal vendido) e merece ser assistido por um público maior. Não é profundo demais para fugir da graça do espectador comum de videolocadoras e também não é fútil demais para cair no esquecimento em poucos meses, assim que sair da seção dos lançamentos. Está aí uma preciosa recomendação, ainda mais se for para ser assistido no frio do inverno que vem por aí.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 15:25

Bela sitação a do pôster. Lembro que peguei esse filme na locadora por causa dele. E me surpriendi com o filme. Como NÃO rir na cena da discussão entre Spritz e sua esposa na porta de casa? Ou na cena da terapia que precede essa discussão? Ou ainda na que Spritz deve comprar molho tártaro??? Vale o DVD!!

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