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Silêncio, O

(The Silence, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Um outro silêncio.

4,0
A plataforma de streaming Netflix vive um boom desordenado de produções? Essa acusação nunca parece ser antiga e, pelo menos a cada novo lançamento da mesma, essa discussão volta à baila. Ao menos semanalmente somos expostos a "novas produções Netflix", no plural mesmo, de diferentes origens: produtos comprados depois de prontos (muitos filmes estrangeiros que não teriam como alcançar audiência global sem eles, como Lazzaro Felice e Girl), produções que eles compraram na "metade" do projeto (ou seja, que não foram originalmente pensados dentro da plataforma e que a contingência fez sua compra necessária, como Roma) e projetos desenvolvidos literalmente dentro da empresa, que acredito que o sucesso de autores como Alfonso Cuarón, Martin Scorsese e Dee Rees irão trazer de fato com qualidade crescente num futuro próximo. Por enquanto, essa última categoria tem sido assolada por produtos como O Silêncio.
Dirigido pelo responsável pelo primeiro Annabelle, John R. Leonetti, a sinopse já entrega a "inspiração". Imaginem se outro John, o Krasinski, tivesse realizado ano passado um filme com todo o surgimento inicial de criaturas, dramas "globais" e estupefação pelo horror abrupto, ao invés de rodar o ótimo desenvolvimento de Um Lugar Silencioso, e você chegará perto do que verá aqui. Desconte também o talento de Krasinski do resultado, e assim é 'The Silence', um thriller de horror sobre criaturas que atacam guiadas pelo som produzido. A capacidade e a qualidade dos profissionais de um dos grandes sucessos do ano passado, o talento para a composição de planos marcantes, o diferencial obtido com a manutenção da banda sonora, o roteiro que respeita seus próprios códigos estabelecidos, isso tudo também ficou somente na matriz, mas embora falte esmero e novidade a essa ideia requentada, alguns pontos felizes podem ser vistos. Ou pelo menos um. 
Se de um lado o clima de tensão passeia entre o adequado e o inexistente, com algumas boas cenas sendo compostas (como a da cobra no duto) e outras rasas e desfeitas pelo excesso de clichê (como todo o acidente de carro), de outro não se pode negar que ao menos um bom e esforçado elenco se conseguiu reunir. Stanley Tucci em raro papel protagonista é sempre uma excelente pedida e lembrança aos produtores sobre a capacidade do mesmo, o carismático John Corbett em papel de destaque, a eternamente sub-aproveitada Miranda Otto mostrando que, assim como seus companheiros, é uma atriz que não merece o tratamento que recebe, e a jovem que protagoniza o filme, chamada Kiernan Shipka; segura, compenetrada e pede atenção no futuro, que possam aparecer novas oportunidades de mostrar seu talento em produtos melhores e que a exijam mais, tendo em vista que sua imersão foi maior do que o personagem exigiu.
Se toda a primeira metade do longa é um passatempo esquecivel repleto de preguiçosas inserções, tais como fade-outs ruins e despropositados, efeitos especiais insuficientes, 'chroma key' desalinhado, falta de imaginação - ou talento mesmo - para criar um material marcante com a premissa que tinha, na segunda metade o motivo pelo qual 'The Silence' existe entra em cena. A primeira aparição do Reverendo é tímida, mas logo essa figura volta aos protagonistas com um convite para se refugiarem com seu grupo, que será devidamente recusado. Em determinado momento, o Reverendo ressurgirá não mais disposto a fazer convites e sugestões. Sua composição é obra do ator canadense Billy McLellan, que em 20 anos de carreira conseguiu pouca expressão nos raros filmes e séries que fez. Sem se importar com a qualidade do material, McLellan é um sopro de vitalidade no longa e sua derradeira entrada em cena (e os desdobramentos da mesma, que devem durar uns 15 minutos) é o grande momento do filme, onde parece que finalmente tudo funciona com o trabalho de Leonetti; um plot realmente interessante que teria tudo pra estar numa produção digna dessa sequência. 
Essa passagem acaba se tornando de apreciação dúbia para 'The Silence', porque eleva o material e também deixa evidente o quanto deficiente é quase todo o resto do que seu diretor apresentou. Baseado em livro de Tim Libbon, o Reverendo e sua passagem pelo filme é suficiente para ser pedido um remake imediato do filme, inclusive podendo manter o elenco original e expandindo a questão do grupo que o personagem-chave lidera, e dando o projeto para um diretor superior comandar, alguém mais afeito a profissão mesmo e não um 'profissional de carreira' que nunca tenha demonstrado aparentes predicados em seu trabalho. 'The Silence', apesar de esbarrar no merecido hit de Krasinski, tinha potencial para se descolar do filme do ano passado e explorar outras possibilidades, imagéticas e autorais, em mãos hábeis.

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