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Críticas

Cineplayers

Vôo baixo de uma sequência supérflua.

4,0

Em Rio 2 (idem, 2014), os personagens saem do Rio de Janeiro e vão para Manaus. Seguem precisamente para a Floresta Amazônica. Os mesmos personagens retornam com alguns poucos acréscimos. Até mesmo o vilão regressa, mas este não está sozinho. O diretor carioca Carlos Saldanha teve em mãos um novo material, a sequência de seu sucesso Rio (idem, 2011). Foi elaborada uma extensão bastante próxima da empreitada anterior, tão rebuscada tecnicamente e cuidadosa, mas sem fomento. Parece vir abarcar o país da Copa e capitanear maior divulgação à nação. A impressão é que tal visão é de alguém de fora. Falta de originalidade? Falta de tantas outras coisas, entre elas de criatividade. Essa é podada! No meio de tanta cor, agitação, música e diversão, faltou imaginação.

Muita música toca o samba. É réveillon e as praias parecem um tapete branco com o céu pintado de várias cores explosivas. A beleza deste ato inicial abre Rio 2, um filme aborrecido. O carisma evidente de seus personagens não banca a cartilha de instituir moral para as crianças irem embora para casa com algum aprendizado, mas estimula a cobiça em comprar brinquedos que tragam estampados os coloridos personagens. A mensagem ecológica é pertinente, sempre é. Tantas animações a utilizaram, As Aventuras de Sammy (Sammy's avonturen: De geheime doorgang, 2010) e WALL•E (WALL-E, 2008) por exemplo. E trabalhar uma moral não é um problema, pelo contrário, mas aqui ela é claramente uma desculpa para os interesses da animação; uma forma de personificar o homem enquanto o ser cruel que está aniquilando a natureza - no caso, as árvores no meio da floresta. Esse vilão é unidimensional e módico.

O casal de arara azul Blu e Jade não estão mais solitários juntos aos seus donos. Filhotes os acompanham com travessuras. Uma oposição entre a tranquilidade do patriarca e o desejo em voltar à natureza de Jade aponta o cardinal escopo temático do roteiro: vislumbrar um retorno ao habitat natural. Como eram considerados animais em extinção, foram devidamente amparados. Mas tudo mudou quando um novo bando fora encontrado. Possibilidades se exaltam e despertam o temor do não pertencimento a um grupo. O visual vivaz dos cenários ensolarados refuta a insegurança de seu simpático protagonista, ao passo que empolga os outros em volta. 

É bem verdade que revisitar esses adoráveis personagens agrada o público, encanta a criançada. Perceber o amadurecimento de Blu e seu envolvimento com o conforto urbano é de longe umas das melhores sacadas do roteiro. Seria uma premissa pertinente para impulsionar uma boa história, além das melhores piadas provenientes das facilitações que a tecnologia nos oferta. Uma vez na mata, tudo isso se perde. Na selva manda outra história, e por uma questão de ideologia sugerida por uma outra "família" de araras azuis. O (anti-)herói precisa deixar tudo para trás e se habituar. Isso pouco interessa para as pretensões da narrativa. É necessário um embate! Algum grande conflito. Esse é resolvido numa partida de futebol. Tal solução é compreensível, mas não deixa de ser importuna.

Não fica só no futebol, há um rio de referências à nossa cultura. Todas bem-vindas, sintetizando a animação com coisas propriamente tupiniquins: danças, gingados, contextos e animais. A cena em que Blu, juntamente à sua família, atravessa o país é bem realizada. Um mapa do Brasil é traçado como num livro pop-up e conhecemos brevemente um pouco de nossas cidades, ao menos alguns de seus pontos turísticos. Percorrer toda a dimensão territorial levaria um filme inteiro, e creio que seria fascinante. Saldanha é ótimo criando personagens cativantes, tal como fizera – embora enquanto codiretor – em A Era do Gelo (Ice Age, 2002) e Robôs (Robots, 2005). Sua composição de outrora é justamente seu equívoco aqui nessa continuação, que sofre por não ter o que apresentar, sendo obrigado a revisitar terrenos mexidos e buscar sucesso com a convenção dos experimentos já testados. Deu certo na primeira investida – com ressalvas – e perdeu o sentido no segundo. A animação planou em meio a risadas e bocejos.

Comentários (3)

Toni Santiago | sexta-feira, 04 de Abril de 2014 - 22:20

4.0 ainda é uma nota alta para isso.

Alexandre Koball | sábado, 05 de Abril de 2014 - 11:36

Tá na média das animações atuais, incluindo filmes da Disney, Pixar e Dreamworks. Exceção do Ghibli.

Raphael da Silveira Leite Miguel | terça-feira, 08 de Abril de 2014 - 23:50

Pra começar o nome já é um equívoco, o filme se chamar Rio e se passar quase que inteiramente na Amazônia. Segundo que o primeiro já achei bastante desgastante, então, parece que toda a fórmula presente naquele também está nesse, inclusive os vilões chatos, afffff...

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