Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Filme de ação pós-Matrix que é só visual e nenhum conteúdo.

4,0

“Mate um, talvez salve mil.”

Tendo a frase acima como lema, uma sociedade secreta que adota o nome de Fraternidade segue a mais de um século assassinando pessoas que, caso continuassem vivas, estariam ligadas a acontecimentos que fariam do mundo um lugar pior. Wesley Gibson é um fracassado empregado de uma empresa de contabilidade que é recrutado para fazer parte do impiedoso clã, ocupando o lugar que fora de seu pai, antes de ser morto.

A partir dessa premissa os roteiristas Michael Brandt, Derek Haas e Chris Morgan desenvolvem, baseados em HQ de Mark Millar e J.G. Jones, uma história já contada diversas outras vezes: a do rapaz que não é ninguém e, de uma hora para outra, passa a ser peça fundamental do universo onde está inserido. O trio de roteiristas, que participou da concepção projetos pouco apreciáveis, como a franquia Velozes e Furiosos, faz da história do fracassado um veículo para comover qualquer nerd ou geek, levando em consideração a transformação pela qual o personagem principal passa: de conformado perdedor a assassino impiedoso, forte, com habilidades incríveis e que ainda consegue despertar interesse em uma mulher como Angelina Jolie. Os roteiristas ainda tentam de diversas formas suscitar a empatia e identificação do público para com a figura de Wesley Gibson, recorrendo vez ou outra, incluindo sua cena final, a um recurso desesperado: o protagonista fala diretamente com o espectador, seja em narração em off, seja olhando diretamente para a câmera. 
 
A estética do filme de Timur Bekmambetov parece mais adequada para um vídeo-game de última geração, e não para um filme. As cenas de ação do diretor receberam mais cortes que uma vítima do Jason, privilegiando closes ininteligíveis em meio a mais que rápida montagem de David Brenner, vencedor do Oscar por seu trabalho em Nascido em 4 de Julho. Bekmambetov extrapola no que já havia demonstrado em seus dois outros filmes, as ficções russas Guardiões da Noite e Guardiões do Dia, quando demonstra não considerar os limites impostos pela física. Sua direção deixa em evidência a falta de cérebro empregada no roteiro do trio citado acima, utilizando qualquer fiapo de trama como desculpa para muitos tiros, mortes e perseguições de carros.

Voltando a consideração que compara O Procurado a um vídeo game de alta definição, o melhor exemplo que se pode dar de tal afirmação sai do recente fenômeno que é o jogo GTA, ou Grand Theft Alto, onde um jovem, sem motivo aparente, sai atirando em tudo e em todos, roubando carros e ainda mais. Uma das seqüências finais do filme é descaradamente retirada desse universo interativo: Gibson chega a determinado local atirando para todos os lados, com uma fúria descomunal, matando primeiramente os capangas presentes no lugar, passando para os vilões onde encontra maior dificuldade e, finalmente, chegando ao local onde se depara com o mais poderoso deles, conhecido dentre os fãs de games como “o chefão”. Bekmambetov apenas é feliz na coragem que emprega em seu trabalho, já podendo ser visto como uma característica própria, quando não censura os fucks e shits dos personagens, assim como não esconde as balas explodindo crânios em diversos momentos, até glamourizando essas seqüências. Pode-se culpar o diretor por utilizar a violência explícita em demasia, porém em um filme como esse, seria chamado de covarde se não o fizesse.

O que funciona bem em O Procurado é parte de seu elenco. James McAvoy, elogiado por suas atuações em O Último Rei da Escócia e Desejo e Reparação, está à vontade na versão que cria para Wesley Gibson, mesmo deixando em alguns momentos seu personagem semelhante demais a Peter Parker. Angelina Jolie, por sua vez, é a melhor escolha do filme, já que armas e tatuagens nunca caíram tão bem em outra pessoa. A atriz, vivendo a assassina Fox, transpira sensualidade e, se outros fatores não forem suficientes para a apreciação do filme, os poucos segundos onde a bela exibe seu derrière farão a felicidade de muitos marmanjos. Morgan Freeman é quem menos desenvolve seu personagem, apenas criando uma versão alternativa para o Lucius dos recentes Batman Begins e Batman - O Cavaleiro das Trevas

O filme de Bekmambetov pode ser classificado como uma ação pós-Matrix. Os irmãos Wachowski revolucionaram a forma de se dirigir os filmes do gênero, e diversas outras produções já se utilizaram de recursos semelhantes ou iguais aos apresentados na trilogia de ficção. O principal problema desses filmes é priorizar o visual, dispensando qualquer vestígio de inovação em suas tramas. A esperança é de que alguns filmes, como recentemente fez a trilogia Bourne, continuem revitalizando o gênero, o tirando da mesmice habitual. 

“Mate um, talvez salve mil”. Para quem já viu O Procurado, ou ainda terá a oportunidade de ver, perceba o erro da frase: definitivamente ficaria mais coerente se o lema do clã de assassinos fosse “Mate mil, talvez salve um”.

Comentários (3)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 03 de Dezembro de 2013 - 21:48

Exagero nem sempre é defeito. Só em casos em que resultam em porcarias como essa....

Renata Correia Nunes | sexta-feira, 04 de Julho de 2014 - 10:43

Esse filme é uma porcaria. Só o humor funciona e olhe lá. O roteiro beira à demência.

Luiz F. Vila Nova | domingo, 21 de Abril de 2019 - 14:31

Considero um filme de ação bem divertido e com cenas de ação alucinantes (das cópias de Matrix, certamente foi o mais bem-sucedido). Angelina Jolie dispensa comentários.

Faça login para comentar.