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Megatubarão 2

(Meg 2: the Trench, 2023)
4,7
Média
19 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Tubarão fresco de boutique

3,5

Como é usual numa continuação de eco-horror, os tubarões agora são mais comuns, o que nos permite verificar ainda mais ações estúpidas dos personagens, assim como descobrir facilmente traidores e transformações. Megatubarão 2 (Meg 2: The Trench, 2023) – inclusive The Trench AKA The Trench: Meg 2 (1999) é o livro de Steve Alten ao qual o filme é baseado e que não sei nada sobre – parte dalguns anos após os acontecimentos do primeiro filme dando ênfase ao anti-heroísmo de Jason Statham, naquela cena inicial clássica de reestabelecimento do protagonista aplicando seu tour de force de pancadaria em prol do bem da humanidade. Ao mesmo tempo mostra-se que criar um tubarão em cativeiro pode, obviamente, dar problemas assim como continuar invadindo o habitat dos megatubarões. As obviedades aqui vão ao limite do tedioso e a direção comportada de Ben Wheatley não ajuda em porra nenhuma.

Este aqui é mais um projeto no longo hall de materiais de estúdio voltados para abraçar diversos públicos e suas respectivas culturas (quão maior o leque melhor, o que se justifica em seu nascedouro por ser um blockbuster), portanto a Warner Bros. Pictures decidira continuar apostando num núcleo com partícipes chineses para agradar a faixa de mercado imensa que vem da China, algo que já havia sido contemplado no primeiro filme – os dois filmes inclusive, são coproduções com a China, no caso a Flagship Entertainment Group, produtora que tem sede em Hong Kong e é uma joint venture entre a Warner Bros. Discovery e a China Media Capital. O lance é que no filme anterior as ligações entre os personagens ainda eram minimamente satisfatórias dentro do que a verossimilhança interna propunha, com alguns conflitos divertidos na medida do possível.. O problema não é o núcleo com chineses, mas a tentativa de encaixe de várias situações que acabam sendo justificadas por serem sintonizadas em um filme com esta proposta de entreter. Meio que um simulacro de isenção pra ser otário. O problema é que essa desculpa até funcionaria se a autoparódia viesse carregada de uma canalhice tácita regada a falta de tédio e não é que rola aqui. As interrelações entre os personagens não são só precárias, mas imbecis mesmo, aliás, a palavra mais justa seria “enfadonhas”. A preocupação de um filme como esse é ser fútil mesmo (nenhum problema nisso, aliás), e que isso seja embalsamado pelo viés da diversidade cultural e correria das ações a todo custo. Mas, este filme padece de um malefício cada vez mais corriqueiro a este tipo de projeto: abarcar temas e ações que põem em escanteio o principal objetivo da destinada fita. Aqui no caso, os megatubarões. Na primeira hora os tubarões ficam em segundo plano (com algumas aparições mal aproveitadas) por conta de uma trama que envolve mineração ilegal nas profundezas, e cabe ao anti-herói Jonas (Statham) dar um jeito de salvar a galera. Obviamente que dentro destas ações os megatubarões irão para a superfície em algum momento. E quando vão não chegam nem a empolgar.

Até tem uma marmota. Apresenta as soluções óbvias dos problemas convenientemente após momentos de tensão, onde antes estas mesmas soluções teriam sido úteis. Causa uma risada involuntária, e isso é bom. Todos os tipos de clichês do subgênero presentes – criança propositadamente se metendo em perigo; decisões imbecis de vários personagens; heroísmo desenfreado do protagonista (inclusive com aproveitamento do talento de Statham para lutas), e por aí vai. O problema não são os usos dos clichês, mas as formas desses usos - falta tesão e graça. E o que realmente se tem para se encaixar entre as cenas enquanto estes mesmos usos acontecem? Ser aborrecido não é um bom caminho. Inclusive porque diabos o filme gasta cartuchos como na primeira metade na qual os tubarões pouco aparecem? Tudo por uma espera de um momento apoteótico que jamais chega a contento. Os caras tem acesso a um puta orçamento, e um universo que pode se inventar o diabo a quatro de animais absurdos para se enfiar na trama, mas teima nas narrativas de humanos em perigo no fundo mar onde lidam com os problemas usuais deste ambiente e com poucos monstros, e quando chegam na tensão final, ficam mais perambulando por praias do que por outra coisa. Fora uns lagartos avulsos que enchem o saco. Muito pouco para as possibilidades disponíveis. Um filme de tubarão gigante que não aproveita melhor o absurdo disso? É por aí. Há uma aparição de uma Lula gigante de ótimo visual (mesmo que mal de pra vê-la em sua completude) que faz pouco mais do que um dos próprios trailers já dispunha, e seu conflito com um Megatubarão é decepcionante. Falando em trailer, o principal tipo de peça de publicidade desse filme já entrega quase em sua totalidade a melhor cena de Megatubarão 2, que é o bichão devorando o Tiranossauro Rex, em cena que mostra até uma curtição com a linha da cadeia alimentar dos estertores do cretáceo (sem entrar na análise a mentira paleontológica. Tem é que mentir pra divertir mesmo). E não passa disso. A aguardada parte final é insossa, com cenas preguiçosas e ordinárias que não empolgam no conjunto e se concentram demais nos humanos em perigo, e que como já sabemos de pronto que não há violência alguma e os apelos maiores a tensão não chegam, meio que ficamos anestesiados com as ações. Ou seja, tu tens um filme com uns animais gigantes, caçadores, cheios de dentes, perigosos e os caralhos, mas ainda assim tu não consegues impor o material como relativamente tenso apenas. Os filmes bagaceiríssimos da The Asylum conseguem ter mais personalidade e tensão, mesmo que a parte técnica seja deveras raquítica. O que realmente escapa no material aqui é a parte gráfica dos efeitos visuais, algo meio que obrigação para uma produção desta envergadura, que aos olhos de qualquer leigo espectador não difere tanto do trabalho de 2018 (e nem precisava). De certo que até ensaia arriscar-se em cores e luzes quando há cenas no fundo do mar, mas tudo muito superficial. Em termos de interpretação, o lance é funcional por parte do elenco inteiro e Statham encara bem um protagonista de fitas de monstro. Ao menos levam bem as situações na brincadeira, com canastrices soltas que servem ao filme de maneira satisfatória.

Pena que não haja um monstro a altura do desafio. O que me leva a outra questão. É interessante perceber as técnicas de marketing principalmente quando o resultado final do projeto passa longe de corresponder a uma promessa inicial. Ora, fora prometido que o maior monstro do mar na história, o megalodonte predador alfa dos caralhos, estaria nas áreas preparando várias putarias, mas o que temos é exatamente a falta disso com, no máximo, algumas cenas desse mesmo bicho dando trabalho aqui e acolá, mas sem nenhum destroçamento brutal que realmente valha a pena citar (sem cobrar sangue). Uma espécie de difamação cinematográfica. E não daquelas canalhas que divertem pra cacete, mas dessas outras sem temperos mesmo. E o Ben Wheatley? O diretor dos afamados na cinefilia Kill List (Kill List, 2011) e Free Fire - O Tiroteio (Free Fire, 2016) faz aqui o feijão com arroz mais medíocre possível. No máximo com algumas escolhas de planos sagazes – como a visão por dentro da boca do animal enquanto devora uma galera, e mais alguns POVs –, que justificam seu trabalho, mas mesmo amarrado pelo texto e por dominâncias de estúdio o sujeito não teve muito o que mostrar, e o que fizera não saíra das raias do ordinário. Infelizmente. Sou fã de filmes de monstro, e este aqui é uma oportunidade perdida. Prefiro uma sessão bagaço de Mega Shark vs Giant Octopus (Mega Shark vs Giant Octopus, 2009), que tem mais graça e traquejo de curtição do que o tubarão de boutique que aqui se apresenta.

Parte do especial Monstruosidades Imensas

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