As guerras costumam servir como ponto de partida para grandes histórias no cinema. O mais recente dos combates, o conflito iraquiano, já foi explorado há pouco tempo, mas nenhuma obra foi realmente capaz de realizar um registro natural e estarrecedor sobre os meandros de uma ocupação militar em um país no qual o inimigo não é um exército, mas, sim, insurgentes dispostos a dar a própria vida com o único intuito de aniquilar os ocupantes, por mais que nem todos os combatentes norte-americanos estejam de acordo com os motivos pelos quais são obrigados a encarar a morte todos os dias.
Guerra ao Terror, que em uma decisão precipitada chegou ao Brasil diretamente em DVD, dedica-se a mostrar os últimos dias no Iraque de um destacamento de elite especializado no desarme de bombas e na investigação de atentados com o uso desse artefato. Meticuloso na abordagem do cotidiano desses soldados, o filme parece quase um documentário estarrecedor do dia a dia de homens que acordam com a incerteza de chegar vivo ao fim dos trabalhos e que assistem à banalização da vida, sem perceber que, por vezes, esse sentimento já está enraizado neles próprios.
Nesse sentindo, o personagem interpretado por Jeremy Renner é o mais rico e interessante. Fugindo do estereótipo do sargento substituto que despreza e maltrata seus inferiores na linha hierárquica, o roteiro explora a personalidade de um homem que mescla prazer pelo combate com momentos de pura humanidade e que, por isso, gera no espectador compaixão por entender o amor daquele homem por seu trabalho. E é por isso que o final de Guerra ao Terror se torna tão emblemático.
Jeremy explora a riqueza de seu personagem e o torna ainda mais interessante por meio de sua atuação expressiva e sóbria, mesmo dando vida a um personagem complexo e que poderia, dependendo da composição, despertar antipatia no espectador. Sua atuação é marcante e colabora para uma das principais características do longa-metragem: as inesquecíveis interpretações. Anthony Mackie, intérprete do sargento Sarborn, já surge como um homem desgastado que, assim como os letreiros do filme, conta os dias para partir do Iraque. E, conforme a história progride, o personagem aumenta sua degradação emocional e Mackie transmite o desgaste do sargento sem precisar dizer muito. O soldado Eldridge, vivido por Brian Geraghty, é o que mais transparece seus sentimentos, externalizando a seus companheiros ter atingido seu limite e condenando a todo instante, mesmo que nas entrelinhas, aquela guerra que considera absurda.
A riqueza nas composições, e que consequentemente credencia o elenco aos prêmios de melhor atuação coletiva do ano, provavelmente não seria atingida se não fosse o trabalho da diretora Kathryn Bigelow, que domina com precisão os elementos narrativos. Bigelow explora os recursos de câmera de forma impecável, criando um ambiente de constante tensão ao mostrar para o público a paz impossível em uma guerra, até mesmo nos momentos de lazer – brincadeiras que muitas vezes são associadas à violência, como jogos em que o prazer maior é desferir socos contra os companheiros de destacamento.
Além de um retrato do conflito, Guerra ao Terror é um competente demonstrativo da natureza do homem que, colocado em situações de perigo e risco extremo, muitas vezes perde sua humanidade para agir de acordo com instintos primários como a agressão – física ou psicológica – ou ser tomado por sentimentos como o ódio. Por vezes deixando de lado a humanidade, mesmo que esse tipo de comportamento não seja consequência das pressões de uma guerra, mas, sim, pelo fato de encontrarem numa batalha o espaço ideal para deixar aflorar os instintos mais primitivos do homem, sem que isso se transforme em algum sentimento de culpa.
Não sei porque, mas esse filme não me pegou muito, não. Achei um filme muito bom, principalmente as cenas final e inicial, mas não achei tudo isso. Acho, inclusive, que os Oscar que levou foram puramente políticos, pois a direção era feminina e não tinha nenhum concorrente aquele ano (dar um Oscar de Melhor Filme para Avatar seria um ultraje), mas é um bom filme. Apenas superestimado.