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Críticas

Cineplayers

Um filme feito na medida para ganhar prêmios, mas que funciona devido à ótima produção e interpretações.

8,0

Certa vez fui ao cinema com um amigo meu e, durante os trailers, conheci Uma Mente Brilhante. Na mesma hora, virei para ele e falei: “Esse filme vai ganhar o Oscar”. Não deu outra. Poucos meses depois, lá estávamos na premiação e Uma Mente Brilhante faturando quatro dos oito Oscar que disputara, incluindo melhor filme. Ainda preferindo O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, posso dizer que não fiquei chateado pela premiação, pois este é um bom filme. Ótimo, por sinal, apesar de ter os seus defeitos. Dava para perceber, desde aquela tarde no cinema, apenas pelo trailer, que ele já teria a fórmula toda certinha para agradar não só o público, mas como os membros da academia cinematográfica. E aprendeu bem, seguiu todas as regras de maneira certinha.

Quando digo isso, quero dizer que ele tem todos as características certinhas para se faturar um Oscar. E, pensando em um filme da sua grandiosidade, fica difícil acreditar que essas características não foram seguidas propositalmente. Há um personagem carismático que, com o tempo vai sofrer. Há a tentativa de superação pessoal que as pessoas tanto gostam. Há excelentes músicas orquestradas que mexem com nossos sentidos. Há um roteiro muito bem escrito. Há até mesmo uma certa dose de ação. Há ainda, o mais importante para á admiração do público, uma tocante história de amor que, apesar de real, foi distorcida para que se encaixasse nesse protótipo todo do que estou falando.

O filme retrata a história da dura vida do matemático John Nash, que no meio do século passado revolucionou as teorias econômicas com sua idéia original que ele tanto procura. O filme segue desde estes tempos primórdios em sua história (no caso, o início da faculdade) até 1994, quando o mesmo ganhou o prêmio Nobel pela sua luta à uma certa doença que tem no filme. Quem foi designado para interpretar o gênio Nash, por incrível que pareça, foi Russell Crowe, que no ano anterior havia ganho o Oscar por sua atuação em Gladiador. Quando digo por incrível que pareça, não é que eu ache ele um mal ator. É só olhar para o seu físico. Ele parece ser realmente um gênio que fica o dia inteiro ou trancado no quarto ou na rua procurando na prática a sua idéia original? Sinceramente, não.

Mas com um talento que eu não havia visto em seus filmes anteriores (ele tinha feito bons filmes, mas nunca um papel que você olhasse e dissesse: “Fulano poderia ter feito esse papel numa boa”, inclusive no premiado Gladiador e no meu filme preferido do ator, L.A. – Cidade Proibida), Russell simplesmente comanda, do início ao fim, o show que é Uma Mente Brilhante. O personagem, que deveria ficar estranho pela incompatibilidade física que eu falei, encaixa-se como uma luva em uma interpretação inspirada, digna de um Oscar (que não faturou, injustamente, ficando com Denzel Washington e seu Dia de Treinamento na premiação mais política que já vi). O que faz essa interpretação ser digna de tantos elogios é justamente o que quase ninguém percebe: os pequenos gestos. O modo de Nash olhar para os outros, de cabeça baixa, ter uns tiques nervosos, o jeito de falar, tudo está tela, acreditem. Russell Crowe fez bonito e ganhou respeito com um papel que será por muito tempo lembrado, mesmo que em um perfil que era totalmente contra a ele.

Paralelamente a ele, temos Jennifer Connelly (dos recentes Hulk e Réquiem Para um Sonho, simplesmente divina, uma das mais bonitas atrizes da atualidade), em também inspirada interpretação como Alicia Nash, esposa que o conheceu quando ele era o seu professor. A mulher que, no filme, acompanhou Nash por toda a vida. É a sofrida mulher que superou todos os problemas com amor (em uma linda cena que ela diz em que Nash tem que acreditar), sendo homenageada na noite de entrega do prêmio Nobel pelo marido.

O filme foi baseado na obra de Sylvia Nasar de mesmo nome, e foi roteirizado por Akiva Goldsman. Aqui entra a maior reclamação. Apesar de tudo funcionar de maneira sublime, basta se conhecer um pouquinho mais sobre a vida de Nash para você sentir que faltou algo na história. Os pontos mais interessantes, e talvez os mais polêmicos que provavelmente não lhe dariam o Oscar, foram deixados de fora. Quando, no parágrafo anterior, falei da deixa, disso aquilo porque, fora das telas, John Nash chegou a se separar dela e ter um filho com outra mulher, somente depois voltando a se casar com sua primeira esposa. O filme ignorou também fatos como Nash já ter sido preso pela polícia de homossexuais e ainda o fato de ter atingido um alto nível de loucura. Claro, era necessário deixar o protagonista no estereotipo perfeito para o filme funcionar, ao contrário do anti-herói que Nash se transformaria se todos esses defeitos fossem divulgados. E digo que isso tudo foi proposital, e não pelo tempo de filme, pois ele se estende bastante ao final, onde o único motivo que temos para que se vá até onde o filme foi, no caso o prêmio Nobel, era emocionar, pois o filme não precisaria ter ido até lá, poderia ter gasto seu tempo explorando ainda mais o personagem.

Claro que Ron Howard (dos fracos Apollo 13 e O Preço de um Resgate, também o produtor do filme) pensou nisso tudo antes de adaptar uma biografia tão sofrida para as telas. Era necessário transformá-la em algo comercial, por isso todas essas modificações. Mas Uma Mente Brilhante é um filme que funciona, muito bonito e tem uma boa mensagem de superação para todos. O romance dentro dele também funciona, nunca fica piegas e está acima de tudo do gênero que tem saído por aí. Vale uma conferida. Mesmo que você não goste das ocultações aqui presentes, é um exercício muito bem feito, além de emocionante e ser vencedor de Oscar.

Se você não viu o filme, não leia essa parte.

A doença de Nash, a esquizofrenia, apesar de não ser inovadora (outro filme recente utilizou esse recurso, mas não digo qual é, pois, se você não o tiver visto, terá a surpresa estragada pela associação de informações), foi muito bem empregada. O nível de detalhes que contribuem para que tudo funcione e se tenha vontade de vê-lo novamente é impressionante. Um exemplo disso é a menininha, sobrinha de uma das ilusões de Nash: em certo momento, quando eles se reencontram anos depois de Nash ter saído da faculdade, a menina sai de perto do tio e do professor para ir brincar entre os pombos. Mas por mais que ela corra ao seu redor, nenhum deles levanta vôo. Por que? Porque ela não existe!

Comentários (2)

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 28 de Novembro de 2013 - 18:44

Apesar de distorcerem a história original, o filme é espetacular e a interpretação de Crowe uma das mais belas que já vi. Denzel que me desculpe, mas o Oscar cometeu uma das maiores injustiças de todos os tempos ao entregar o prêmio para o protagonista de Dia de Treinamento.

Victor Henrique Schmidt Timm | sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2015 - 10:52

Eu arrecem tinha visto "Gênio Indomável", e fui ver este. Os filmes são muito parecido, sei lá pq não achei este file muito bom. Acho que não gosto do Russel Crowe.

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