5,0
Nos últimos doze anos Gustave Kervern e Benoît Delépine se debruçaram em formatos de críticas incisivas contra o modelo político francês e o comportamento social da burguesia francesa. A dupla construiu uma filmografia de extremos e o raio de alcance sempre a favor de uma narrativa torta, longe da falcatrua que goza da atenção da suposta crítica domesticada (ou melhor, longe dos raros filmes políticos que ganham as salas de cinema por aqui). Com o humor negro como norte principal com momentos de grande felicidade nestas críticas como em A Grande Noite, AAltra e Louise-Michel, Kervern e Delépine foram capazes de ir do filosófico ao prosaico com a mesma abordagem.
Saint Amour – Na Rota do Vinho talvez confirme uma mudança iniciada em Near Death Experience, o primeiro passo na mudança de tom – em Near Death Experience vemos uma experiência minimalista de um homem em conflito, expondo doses severas de humor entre o arquétipo de um drama social, no fim das contas. Já Saint Amour parece um acordo de paz entre os diretores e o país, no qual o mapa francês – e a famosa rota do vinho - servem como maior referência narrativa.
Obviamente estamos diante de uma comédia de erros, desta vez inclinada ao humor físico em diversos momentos, mas a cada parada para um gole (que viram incontáveis garrafas) de vinho, há um alcance subjetivo traçado por Kervern e Delépine. Há a ideia de reforço e valorização de um país como se fosse o momento exato para remover as chagas outrora colocadas com tanta veemência. A viagem de pai, filho e motorista (Gérard Depardieu, Benoît Poelvoorde e Vincent Lacoste, respectivamente) pode ser dividida em duas partes, portanto; Há o lado tradicional de Kervern e Delépine, pronto para satirizar com qualquer meandro que apareça e que possa virar referência histórica ou política. E há o lado de um filme mais interessado na celebração, gerando uma grande lacuna.
A natureza de Saint Amour é o road movie, o desenho conflituoso de seus personagens como condição básica para escada de cada situação cômica e como contraponto, o olhar não-materialista, mas espiritual de contemplar e reconhecer um outro país, este que nunca esteve presente na filmografia da dupla. No encontro destes extremos há uma estranheza ainda insondável, principalmente pelo caráter acessível que Saint Amour leva. Há no filme cenas que seguem a fórmula da razão versus paixão em que o sentido parece ser perdido. Afinal, a França está lá para ser achincalhada ou amada?
Se a intenção de Kervern e Delépine é a de usar a França desta vez como ponto de (des) equilíbrio na dialética, Saint Amour é um filme bem sucedido. Do contrário, o que se vê em primeira instância é o novo interesse da dupla pelo tema preferido e um novo caminho a seguir. Que venha o próximo filme.
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