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Críticas

Cineplayers

O novo filme de Bertolucci é uma obra bastante original, que explode de sensualidade nas telas.

7,5

Mostrado pela primeira vez durante o ano passado em um dos maiores eventos mundiais do cinema, o Festival de Cannes, o mais novo filme do comentado diretor Bernado Bertolucci gerou enorme polêmica e um incontável bate-boca a respeito daquilo que fora mostrado. De certa forma, quem mais se beneficiou com tanta polêmica fora o próprio diretor; um caso muito parecido com a do filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, que se beneficiou da polêmica gerada pela própria temática para se auto-promover. Entretanto, o ponto em questão aqui é totalmente o oposto. Enquanto no filme de maior bilheteria do ano o ápice da discussão era em torno de conflitos e questões religiosas, aqui nos deparamos com longas cenas de nudez, sexo e incesto espalhados por longas tomadas durante todo o filme. Pronto, está armado o palco.

Claro que para tratar de um assunto tão delicado, com tamanha sutileza e disposição para se fazer um filme, acima de tudo, de arte belíssimo, teríamos que ter uma pessoa muito inspirada e com tamanha sensibilidade para conseguir levá-lo adiante sem ter como carro-chefe cenas sensuais ou coisas do tipo. Esse trabalho caiu nas mãos de ninguém menos que do talentoso italiano Bernardo Bertolucci, que entre outras obras em seu currículo cinematográfico possui O Último Imperador e Último Tango em Paris.

Mas antes de entrar na parte técnica e artística do filme em si, vamos falar um pouco a respeito do universo, personagens e enredo que cercam a mais nova obra de Bertolucci. O tulmultuado cenário político que reinava em Paris no ano de 1968 serve apenas como pano de fundo para a história de três jovens cineastas que se vêem atraídos por sua paixão por filmes. Matthew (Michael Pitt), um estudante norte-americano fazendo intercâmbio e concluindo seus estudos na universidade de Paris acaba ficando amigo de um casal de irmãos chamados Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green), que possuem aparentemente uma misteriosa relação e um comum o amor pelo cinema. Com toda a agitação política, movimentos e protestos que marcaram o mês de maio de 1968, os três jovens acabam desenvolvendo um tipo de relacionamento que Matthew jamais experimentara em sua vida.

Michael Pitt tem um personagem razoavelmente interessante em Os Sonhadores e desempenha de forma regular seu papel. Apesar de ser aparentemente o personagem principal do filme, nada se compara à maestria com que Louis Garrel e Eva Green interpretam o casal de irmãos que vive uma intensa relação nada comum. O personagem de Louis é praticamente tudo o que Matthew gostaria de ser, bonito, inteligente e esbanjando estilo. Garrel tem uma participação muito mais fundamental na película em sua primeira metade, na medida em que seu personagem apresenta Matthew a Isabelle e o relacionamento dos dois deslancha.

Simplesmente não poderíamos deixar de falar sobre a melhor personagem do filme, Isabelle. Interpretada por Eva Green, que futuramente estará estrelando a mega-produção Kingdom of Heaven, ela é ao mesmo tempo sensual, erótica, romântica, misteriosa, inteligente e acima de tudo atraente, muito envolvente. E ao mesmo passo que o relacionamento do trio se torna cada vez mais tórrido, a personagem de Eva vai desenvolvendo características psicológicas que fazem com que sua personagem torne-se cada vez mais e mais intrigante. A dependência que Isabelle tem em relação ao irmão Louis é tocante. Até agora confesso tentar visualizar os motivos para tal dependência além dos já apresentados no filme de Bertolucci.

Os Sonhadores é um filme como nenhum outro, uma película que mostra e dosa ao cinema norte-americano à medida certa de arte moderna e contemporânea que o cinema da terra do Tio Sam tão desesperadamente necessita. É um filme tão bonito fisicamente falando e tão ardente e sensual que realmente vale a atenção de todos. Não é necessário nem dizer, mas apenas lembrando, que a censura “Rated R” (no Brasil, apenas para maiores de 18 anos) é mais do que justificada aqui.

Contando ainda com uma boa trilha sonora e com a competente direção de arte por parte da equipe de Bernardo Bertolucci, Os Sonhadores é um colírio para os olhos, um filme que pega um conflitante cenário político da década de 60 e ensaia nela uma ardente história de amor vivida por esses três amigos. O filme acaba por provocar o público ao invés de passar uma sensação de tranquilidade após tanta beleza exibida. O resultado é uma obra envolvente e completamente surpreendente.

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