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Críticas

Cineplayers

Um dos melhores suspenses - provavelmente o melhor - desde O Sexto Sentido.

9,0

Os filmes de terror da atualidade são conhecidos por serem ruins, muito ruins. Não assustam nem cachorro, quanto mais alguém que já tem uma boa carga desse gênero na cabeça. Apoiando-se, ao que parece à princípio, no pequeno ressurgimento do gênero que O Sexto Sentido proporcionou, Os Outros surpreendeu muita gente e tornou-se um pequeno sucesso em 2001, assustando milhões de pessoas ao redor do mundo. E o melhor: nada de adolescentes acéfalos correndo desesperados de uma faca: o grande trunfo desse filme é, assim como na obra-prima de Shyamalan, conseguir mexer com o subconsciente do espectador, revelando emoções e temores mais com a sugestão do que com gritos histéricos e assassinos mascarados.

Os Outros é um ótimo exercício de suspense, proporcionado pelo competente diretor espanhol Alejandro Amenábar, que tinha, anteriormente em seu nome, o ótimo Abre los ojos, de 1997, que Tom Cruise resolveu levar para os Estados Unidos na forma de remake quatro anos mais tarde, com Vanilla Sky (e Os Outros foi produzido por Cruise, de certa forma, como retribuição ao remake). Com apenas um grande nome em seu elenco – Nicole Kidman – o filme possui alguns momentos de fazer gelar a espinha, literalmente falando. Obviamente isso pode acontecer dependendo do quão impressionável é seu espectador, mas o sucesso comercial de um filme tão pequeno demonstra que muitos concordam com essa afirmação. O público gosta de ser assustado, pelo menos no conformo do sofá ou do cinema, e para a grande maioria dele, que certamente já estava cansado dos slashers da vida (filmes de assassinos em série), Os Outros pode mesmo representar uma inovação bem-vinda.

Mas a utilização da palavra “inovação” pode ser um tanto perigosa. Esse filme é acusado por uma grande legião de espectadores de ser uma cópia, apenas um pouco modificada, de O Sexto Sentido. Posso garantir que esses espectadores não poderiam estar mais enganados. O filme tem também um final chocante e surpreendente, ainda que um pouco mais fácil de prever do que o de O Sexto Sentido (não que eu tenha conseguido, claro), e há elementos comuns entre os dois finais. De qualquer forma, vou parar por aqui nesse assunto para não correr o risco de contar demais caso você não tenha visto o filme ainda. O caso é que a acusação de cópia, embora seja entendível, não é realmente verdadeira. Os dois filmes têm apenas o gênero em comum, mas sua ambientação é extremamente diferente.

O clima do filme é o que faz dele algo tão especial. É um dos raros trabalhos que conseguem envolver o espectador apenas com seu visual, e a cada minuto que passa fica mais difícil se desvencilhar da curiosidade e de não sentir o mesmo medo que os personagens sentem. É um filme sobre uma mansão mal-assombrada em um local isolado (adoro esse tema, mas há tão poucos filmes bons com ele). Grace (Nicole Kidman) mora lá com seus dois filhos, que possuem uma doença e não podem serem expostos à luz solar. Todos os lugares da mansão são, portanto, mergulhados na escuridão total, mesmo de dia, através do uso de pesadas cortinas. A sensação é de uma noite infinita, pelo menos para as duas crianças que não podem sair de casa de dia.

Finalmente, o marido de Grace está desaparecido por causa da guerra, e ela vive uma vida infeliz por causa da espera pelo seu retorno e das dificuldades que a doença de seus filhos proporcionam. Mais do que isso é desnecessário falar, e seria recomendado não ler. Vale destacar apenas ainda a participação dos dois empregados da casa, sra. Mills e sr. Tuttle, que trarão um ar de mistério ainda maior ao lugar. O elenco é realmente pequeno (há mais alguns personagens, mas participam muito pouco do filme, e falar deles seria estragar muitas surpresas), o que ajuda a manter a ambientação constante de mistério que cerca os acontecimentos da mansão, até o grande final-surpresa.

Produzido com um orçamento modestíssimo para os dias atuais, de apenas US$ 17 milhões, o filme conta com grande parte técnica, principalmente a fotografia, que com o maravilhoso uso da luz e de sombras possibilita criar a já citada ótima ambientação. A mansão é um local em certos momentos tenebroso, com objetos antiquados de formas tristes e cores mortas (obviamente esse cenário era mais comum no início do século, época na qual o filme parece se passar). A trilha sonora é cuidadosa e, embora não seja de qualidade destacável, ajuda na criação do clima do filme (e ao contrário dos filmes que se dizem de terror, nos últimos anos, ela nunca se sobressai em relação às imagens).

No final das contas, Os Outros não possui nada de realmente inovador se comparado à toda a história do cinema em si. Mas se analisarmos apenas os últimos anos, é um dos melhores filmes Ocidentais do gênero (o Japão está criando bons filmes também), e no meio de tanta baboseira, ele traz certamente uma sensação de ar fresco. O filme tem algumas cenas memoráveis de sustos – dois dos maiores que já levei nos últimos anos (assistindo o filme tenho certeza que você saberá quais são) estão em Os Outros, o que não é pouca coisa. É entretenimento da melhor qualidade, não fazem muito mais disso ultimamente e, mesmo que não seja um novo clássico como O Sexto Sentido, que já é, este é um filme a ser muito bem recomendado.

Comentários (8)

Lucas Souza | sábado, 17 de Janeiro de 2015 - 11:49

"O Sexto Sentido" ofuscou vários filmes bons que infelizmente foram lançados quase que simultaneamente ou pouco tempo depois como exemplo o ótimo "Ecos do Além" com Kevin Bacon...

●•● Yves Lacoste ●•● | quarta-feira, 08 de Abril de 2020 - 17:45

O melhor suspense do Século 21 acaba de ser confirmado q ganhará um remake. Qual necessidade gente? Nicole Kidman no elenco e revelação final surpreendente: o que é Os Outros sem esses dois elementos? Não sou tão contra a refilmagens, mas tá aí um das mais desnecessárias da história!!

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