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Críticas

Cineplayers

Fórmula do sucesso.

6,5

Nunca se produziram tantos filmes sobre histórias em quadrinhos. No presente momento, a subsidiária cinematográfica da Marvel Studios é responsável, desde o final da década passada, por lançar uma série de filmes baseados no universo da arte sequência que criaram um público específico e fiel junto a trilogia Batman, dirigida por Christopher Nolan, de uma forma pouco vista antes – dava para contar nos dedos as tentativas bem-sucedidas, como a dupla de filmes do Homem-Morcego dirigida por Tim Burton e a quadrilogia Superman protagonizada por Christopher Reeve.

Entre filmes solo, extensos filmes sobre as associações de super-herói e projetos que reúnem mais ambição de enredo que os filmes de médio e pequeno orçamento feito pelos idos das décadas de oitenta e noventa e contam com grandes destaques do star system cinematográfico e destaques da televisão, nos dias de hoje uma referência tão qualitativa quanto, que se chega em uma aposta que poderia em um primeiro momento parecer arriscada: Guardiões da Galáxia (Guardians of The Galaxy, 2014), equipe ficcional que teve sua primeira encarnação em 1969, mas teve como objeto de adaptação a nova formação criada em 2008. Arriscada porque ao contrário de Homem Aranha, Batman, Os Vingadores e tantos outros, carregam poucos anos nas costas, sem a certeza que estariam tão consolidados entre o público quanto os heróis mais tradicionais.

Diferindo dos grandes grupos tradicionais, os Guardiões da Galáxia não são, automaticamente, grandes heróis com propósitos nobres, mas antes, “escória” da sociedade que vivem – marginalizados em suas origens, párias por suas próprias escolhas e interesses. Como em todos os exemplares de buddy movies – dos Três Patetas aos filmes de Edgar Wright e Simmon Pegg, passando por Cheech e Chong e Terence Hill e Bud Spencer, é só a sociedade e cumplicidade de personalidades incompatíveis em qualquer lugar que são capazes de criar aquela que parece ser a forma favorita das histórias individualizantes do drama burguês: compreensão da individualidade, união pelo contraste, onde as falhas morais individuais são aceitas, curadas ou mesmo encontrando um viés positivo através de um grupo diverso e interdependente.

No caso, os “perdedores unidos” do filme tem a premissa básica dos filmes de super-herói, caubóis modernos que como nos filmes cinquentistas de seus predecessores, são força reduzida e determinada contra uma ameaça gigantesca e ameaçadora – personificados frequentemente em histórias que envolvam escalas maiores que vizinhanças ou cidades em um líder autoritário, genocida e vingativo que deseja um artifício poderoso para exterminar seus adversários de forma absoluta, líderes, soldados e civis, cuja únicas esperanças irão residir no grupo desajustado que, uma vez que busquem resoluções internas, conseguirão lidar com ameaças externas.

O roteiro que James Gunn dirige faz como nas obras supracitadas e explora o desajuste e o contraste pelo humor que a ficção/fantasia científica podem proporcionar – diferenças culturais, referências populares ao mundo dos espectadores com o protagonista humano servindo como identificação e ponte entre nosso mundo já conhecido e o mergulho frenético com mínimo tempo de diálogos didáticos sobre o funcionamento de sociedades fictícias em macro-escala. O maior interesse fica mesmo no desenvolvimento dos anacrônicos protagonistas, onde através de todos os artifícios – o melodrama da construção pré e durante filme, com planos fechados e música cadenciada e melancólica, casados com os diálogos introspectivos que revelam o que há com aqueles personagens por detrás das máscaras de força ou deboche que ostentam diante do mundo, junto com coreografias e efeitos especiais de armas de fogo e o design de produção de raças, roupas, objetos, naves e geografias desconhecidos dando a dose de ação física que traz para o mundo concreto os problemas e fraquezas a serem superados.

A fórmula de sucesso da Marvel persiste numa longa tradição – vide exemplares antigos como Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, 1959), de Howard Hawks e Duro de Matar (Die Hard, 1988), de John McTiernan – que fundamenta o que se entende por imagem movimento: o regime de imagens próprios do cinema narrativo, que visa priorizar a ação com a crença que ela seja a expiação e redenção de todo sofrimento. Com a perda, há a vingança. Com a ameaça, há a reação. Com a imposição de um limite, há a superação. A necessidade contínua de resposta transforma mesmo os personagens mais questionáveis em figuras admiráveis e carismáticas – porque a eles pertence o protagonismo da ação, a liderança nos tempos de necessidade, o sacrifício individual em nome da comunidade.

Uma narrativa com seus acertados tons épicos, a resolução literalmente no campo de batalha diegético, com o grosso dramático desenvolvido de maneira cuidadosamente padrão com todos seus protagonistas (para que sempre haja a mínima identificação de nós mesmos ali) e o uso constante do humor garantindo que nenhum personagem, mesmo o mais intimidador, possa ser plenamente levado a sério - até a sisudez pode ser deslocada do lugar comum para tornar-se por vezes constrangedora, ridícula e por fim, divertida, os filmes de super-herói adolescentes carregam em si uma longa tradição de simplicidade como linha de frente e uma complexidade mitológica como pano de fundo que hoje em dia a Marvel é uma das que mais reproduzem com sucesso e retorno, através da compreensão e pensada reprodução desses artifícios narrativos que já carregam décadas consigo e cuja construção geral do produto ainda parece manter seu vigor e força expressiva para muitos.

Comentários (39)

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 07 de Agosto de 2014 - 22:27

Acho que o cinema pipoca, sem maiores pretensões e descompromissado é sempre bem-vindo. Mas já tô cansando desses filmes antes mesmo de assistí-los. Já tá meio repetitivo. Tomara que esse seja bom.

Ianh Moll Zovico | sexta-feira, 08 de Agosto de 2014 - 15:07

Melhor filme do ano. Achei melhor que Os Vingadores e Cap. 2

Sendo então, na minha opinião.. os melhores filmes da Marvel até aqui:
- Guardiões da Galáxia
- Capitão América 2
- Os Vingadores

Não falo de Homem Aranha 2, pois considero da Sony.

Daniel Oliveira | terça-feira, 19 de Agosto de 2014 - 10:06

Pessoal, tenho um projeto pessoal de um podcast, e na última edição falamos sobre Guardiões da Galáxia. Quem quiser conferir, segue o link ;)

http://cinefiloemserie.blogspot.com.br/2014/08/the-cast-06-guardioes-da-galaxia.html

Alexandre Marcello de Figueiredo | terça-feira, 13 de Janeiro de 2015 - 19:41

Alguns personagens são bacanas, sobretudo o guaxinim e a árvore humanóide, porém, não sou afeito a filmes com naves espaciais e batalhas galáticas, nunca fui fã de "Guerra nas Estrelas". "Eu sou Groot!" "Eu sou Groot!"

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