7,5
Os fãs de cinema de ação frenética encontrarão aqui uma das cenas mais emblemáticas em anos, realizada a partir de um POV (ponto de vista) que nos transporta ao universo de uma estranha que entra num corredor deixando corpos espalhados enfileirados e sangue espirrando como tinta numa grande tela abstrata. A cena é longa, virtuosa em movimentos, próxima de uma lógica de vídeo-game até quando encontra um espelho; e aí, nesse instante, a conversão da perspectiva, um momento singular de um criativo plano de ação cuja imagem, agora do ponto de vista do espectador, vislumbra a intensidade de um embate plasticamente irrepreensível.
A Vilã é um belíssimo filme de ação protagonizado por uma mulher, Sook-hee (Ok-bin Kim), cuja gama de emoções lhe oferta distintas camadas psicológicas. A inventiva obra fala de vingança e pulsa agressividade com armas de fogo e lâminas afiadas. O ódio é a herança de uma personagem subjugada à violência desde a infância, quando assistiu um assassinato e depois foi treinada, transformando-se numa máquina de matar. O roteiro elucida seu comportamento justificando-o a partir de flashbacks que mostram diferentes fases da vida. A saga de Sook-hee faz lembrar de Lady Vingança (Chinjeolhan Geumjassi, 2005), de Chan-wook Park, e de Nikita - Criada para Matar (Nikita, 1990), de Luc Besson. Prováveis inspirações.
A direção efusiva e criteriosa de Byung-gil Jung chama atenção pelo interesse técnico cuidadoso em realizar cada uma das estilizadas cenas, com cores, movimentos e efeitos. O cineasta é especialmente competente quando dirige cenas de ação, evocando diferentes títulos – aqui é impossível ignorar referências a Oldboy (idem, 2003) –, e fazendo uso de raros cortes, deixando a coisa toda visualmente mais compreensível. É de um realismo intenso, ainda que absurdo. A fotografia de Park Jung-hun está sempre próxima de seus personagens e abarca todo o contexto de modo a fazer compreensível cada movimento coreografado e nos obrigar a prestar atenção em detalhes. É característica do cinema coreano atentar-se a minúcias.
A dupla Byung-gil Jung e Park Jung-hun encontram um recurso eficiente ao abordar cenas que se sustentam por flashbacks, criando transições inteligentes e elipses que trabalham com o ritmo narrativo, deixando tudo ainda mais orgânico e perfeitamente inteligível – a cena da gravata azul é particularmente elegante. O filme é costurado por diferentes personagens cujas subtramas empregam uma complexidade desnecessária à história, que já conta com os já mencionados e indiscriminados flashbacks. Assim, por vezes parece demasiada bagunçada, com um vai e vem que só não sabota o ritmo devido à competente direção que estabelece um foco de atenção. Há um objetivo em meio a tanta vaidade em imagem: a vingança.
Byung-gil Jung é definitivamente talentoso na concepção imagética e parece apaixonado por cada uma de suas cenas, não conseguindo abrir mão de nenhuma. No cinema de caos coreano, este se destaca com truques inteligentes. Em meio a tanta violência, um romance resplandece de maneira amistosa, com as investidas de um homem sobre a mulher. O tom erótico converge com o cômico e tem função de alívio diante tanta agressividade. Esse é outro ponto interessante de se acompanhar. Mas tanta informação enfraquece a narrativa por lhe tirar força, descentralizando sua implacável e brutal protagonista a fim de retratar outros assuntos. A Vilã é um grande filme de ação com excessos estéticos, um esmero técnico de um cineasta talentoso, incapaz de desgarrar da forma por parecer tão fascinado pela própria imagem que criou.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário