Peter Jackson ainda é um dos meu diretores favoritos. Além da inesquecível trilogia do anel, ele foi responsável por ótimos passatempos como Os Espíritos e Fome Animal e uma refilmagem excepcional (King Kong). E mesmo com as críticas e comentários ruins – alguns chegaram a destruir a produção – fui ver Um Olhar do Paraíso não muito esperançoso, mas com uma certa confiança no trabalho de Jackson. Para minha surpresa, The Lovely Bones passa longe de ser um filme completamente satisfatório, mas não é a bomba que muitos dizem por aí. É apenas um projeto que deixa o público com um gosto ruim na boca por conta de seus defeitos incorrigíveis, impossibilitando que suas qualidades sejam vistas.
O roteiro, inspirado na novela de Alice Sebold, acompanha a história de Susie Salmon (Salmon, like the fish) que tinha quatorze anos e vivia uma vida feliz, quando foi brutalmente assassinada por seu vizinho psicopata. Depois disso começamos a acompanhar duas linhas narrativas paralelas: Em uma delas vemos Susie numa espécie de Limbo que antecede o céu, onde ficam as pessoas que ainda não se desprenderam completamente da Terra. Na outra acompanhamos a família da garota, que tenta lidar com sua morte e ao mesmo tempo descobrir a identidade do assassino.
Como, quase, sempre acontece em histórias com dois núcleos Um Olhar do Paraíso tem seu ritmo prejudicado por fazer o espectador ficar mais interessado em uma trama do que em outra. Assim, ficamos (moderadamente) empolgados nas sequências protagonizadas por Stanley Tucci, já que o roteiro e a ótima atuação de Tucci fazem com que a plateia fique automaticamente com raiva do vilão, torcendo para que seja pego, aliás, por isso, não acaba sendo surpresa que a melhor cena (por conta seu nível de tensão) de todo o filme seja aquela em que a irmã da mocinha está na casa do assassino.
É uma pena que os momentos que tinham como objetivo construir um tom melancólico á partir do sofrimento da família de Susie jamais saí do lugar, já que as relações entre os personagens jamais é sólida o suficiente para criar uma verossimilidade. Porque, por exemplo, a menina tenta se comunicar com o pai e não com a mãe? E isso acaba sendo ainda mais difícil de se acreditar quando a garota, lá perto do final, diz: Acho que só estava esperando ela (a mãe). Mas o que realmente prejudica esse núcleo é mudar constantemente de tom, clima e gênero: Ora vemos Mark Wahlberg destruindo objetos que o lembram da filha, ora vemos ele indo para o meio do milharal de madrugada atrás do homem que ele ACHA que é o responsável pela morte de sua filha. Resumindo: Essas oscilações acabam destruindo qualquer chance do ‘lado thriller’ e do ‘lado dramático’ funcionarem, deixando o filme repleto de cenas sem função.
O elenco, por outro lado, acaba não tendo muito o que fazer, já que todos os personagens são ocos e vazios: Rachel Weisz e Mark Wahlberg se saem bem ao demonstrar a dor da perda, mas isso é tão raso que não chega a fazer o público sentir esse sofrimento, e como se isso não bastasse a construção dramática é tão irreal que em certo ponto da histórias somos forçados á acompanhar Weisz colhendo orquídeas para superar a morte da filha. Da mesma forma, Susan Sarandon acaba construindo uma personagem divertida, mas que não tem nenhum objetivo dentro da trama além de protagonizar cenas pitorescas e batidas. O mesmo pode ser dito da amiga que Susie faz, já quando morta. Em contrapartida, temos um fotografia soberba repleta de tons e sombras, que constroem locais belíssimos e paisagens de encher os olhos; infelizmente essas qualidades não são atribuídas ás cenas que se passam no paraíso.
Depois de construir cenários grandiosos e épicos em O Senhor dos Anéis e King Kong, Peter Jackson tenta repetir o feito sem sucesso: A maior parte das sequências que vemos Susie correndo por lugares inesperados e fantasiosos, pecam por abusarem de efeitos visuais ruins (o que é surpreendente para um cineasta que fez a criatura digital mais impressionante do cinema até hoje) e por não terem nenhuma lógica justificável, como, por exemplo, numa cena em que a protagonista está num mundo seu – minúsculo e extremamente colorido – com sua recém amiga sobrenatural usando vestidos escandalosos, ao invés de criar alguma conexão entre essas cenas Jackson simplesmente cria situações que parecem uma mistura de O Pequeno Príncipe e Sex and the City. O pior é que a cena mais bonita de Um Olhar do Paraíso é aquela em que Mark Wahlberg encara uma vela, deixando o espectador deduzir que o que faltou ao filme foi sutileza.
Com uma trilha sonora repetitiva e cansativa, e cenas que não fazem o menor sentido (porque, e como, Susie volta á Terra no corpo de outra garota apenas para dar seu primeiro beijo ao invés de voltar para se despedir dos pais?) Um Olhar do Paraíso ainda termina da maneira mais tola e insossa possível, com uma cena que provoca um humor involuntário indescritível. No geral é uma produção que se perdeu após o ótimo ato inicial, investindo em cenas exageradas e vazias que não deveriam nem existir, criando um filme bagunçado e que manchou a reputação de seu diretor.
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