Já não se fazem mais Oliver Stone's como antigamente... O cara teve as manha de relatar os conflitos e traumas da guerra do Vietnã como ninguém... Tanto que os dois Oscar que ele recebeu na carreira como melhor diretor foram por "Platoon" e "Nascido em 4 de Julho" duas obras primas da guerra em que o Tio Sam saiu perdedor... Como roteirista foi indicado também por esses dois filmes e "Nixon" e "JFK" mas acabou levando a estatueta pelo seu primeiro trabalho como escritor, o ótimo "O Expresso da Meia-Noite". Dirigiu também os excelentes "Salvador", "The Doors", "Wall Stret", "Assassinos por Natureza" e "Um Domingo Qualquer". Você deve ter percebido que a maioria desses filmes são do final da década de 80 e meados dos anos 90, auge da carreira do diretor. Porém seus últimos filmes não contam com a energia e força dos seus melhores trabalhos... "Alexandre", "As Torres Gêmeas", "W" e a sequência de Wall Street são filmes muito fracos e que acabam por tornar bastante irregular a carreira desse premiado diretor... Vide esse seu ultimo filme "Selvagens"...
Na história, debochada até dizer chega, dois caras (Aaron Johnson e Taylor Kitsch) produzem, consomem e vendem maconha da melhor qualidade, além de dividirem a mesma garota (Blake Lively). A onda deles só não continua a mesma porque eles entram na mira de um cartel mexicano, controlado por uma mulher impulsiva (Salma Hayek) e com um capanga (Benicio Del Toro) louco por poder. Apesar de muito bem relacionados com um corrupto agente (John Travolta) do departamento anti-drogas americano, as coisas acabam saindo do controle e uma sequência de crimes transforma a vida deles numa verdadeira 'bad trip'.
E é no enredo da fita que se iniciam os problemas. Primeiramente, eu não sou um especialista em narcotráfico, mas creio que a galinha dos ovos de ouro destes grupos de bandidos é a venda de cocaína e drogas sintéticas, tendo em vista que a maconha já é comercializada com receita médica em diversos lugares dos EUA, e é praticamente um commodity a ser legalizado em grande parte do país, pelo menos daqui pouco anos. Então quando vemos um cartel latino cortando cabeças e aterrorizando dois pequenos discípulos do Bob Marley, isso soa no mínimo forçado...
Entram então as falhas do roteiro. O filme se desmembra em tantos eventos desnecessários, que talvez funcionaria melhor se fosse uma mini-série de TV (que também seria fraca e cancelada depois da segunda temporada). O tempo perdido em planos furados e discussões redundantes sobre relacionamentos, ideologias e posições espirituais é imenso, o que torna a história cansativa. Os momentos em que vemos 'O' no cativeiro são angustiantes de tão banais, e a relação da moçoila com a chefona da quadrilha a solitária Elena beira a falta de bom senso...
A trinca principal dos atores só funciona pela beleza, boa atuação aqui, nada. Lively é gostosa até dizer chega, mas numa fita como essa isso é muito pouco. Kitsh tem cara de brabo o tempo todo e o olhar perdido e inocente de Taylor-Johnson é totalmente irritante vindo de um traficante de drogas e o pior meu velho! O cabra ainda é filantropo ajudando criancinhas indefesas na África! Vá se foder manolo! Del Toro e Travolta também não ajudam, piloto automático total e descobrimos que uma das maiores traficantes do México a senhorita Helena interpretada pela outra deliciosa Salma Hayek é somente uma mãe dedicada e materialista...
Se o roteiro e o elenco não ajudam, pois a didática quase que patológica de explicar com detalhe tudo que é atirado na tela a parte técnica também não contribui. As cores saturadas e fotografia em preto e branco é bonita mas visualmente cansativa. Os close-up's excessivos, viradas de câmera na diagonal, shot's, aceleração de frames, pausas e câmeras lentas só servem para nos causar enjoos e vertigens. Tudo é muito colorido o figurino parece um circo em carnaval, acho que isso foi proposital por parte do Stone mas cansa a retina novamente. E outra cara pálida, pra que duas horas e dez minutos pra contar essa porra toda?????????? Uma hora e meia já era suficiente e olhe lá...
O título "Selvagens" pelo menos pra mim traria cenas sádicas e muito sangue... Pelo menos pra mim não pra Oliver Stone. A tal violência, que parecia uma promessa a ser comprida pelos bestiais selvagens, existe apenas em raras ocasiões - três para ser mais exato. Sem falar no excesso dos aparatos high-tech utilizados, com ameaças virtuais cheias de animações cartunescas bombando a todo momento... Algo bem difícil de engolir, tendo em vista que estamos falando de gangsteres...
Bem então a fita não possui acertos? Muito poucos vindo de um ganhador do Oscar. Edição é um ponto de destaque, e segue a linha do último trabalho do diretor "Wall Street 2: O Dinheiro Nunca Dorme", apresentando um estilo inovador e diferenciado, algo interessante de se ver. A trilha também não erra, e opta bem por suas linhas sonoras, inteligentemente ligadas ao conceito do longa - uma coisa muito engraçada é ouvir, a todo momento, uma canção escolhida como toque de celular de quase todos os personagens se tratando de uma das músicas do famoso seriado "Chaves"...
Eu não li o livro e acredito fortemente que ele é muito superior a película, não é possível! O grande problema de "Savages" é sua falta de credibilidade. O sofrível roteiro não se sustenta, aposta em sequências apáticas, pouco desenvoltas, que se tornam intragáveis e enfadonhas. Diante também da irregular parte técnica oferecida por Stone, o resultado é ainda mais decepcionante, pois o resultado poderia ter sido um filme com menor duração e bem mais interessante... Já não se fazem Oliver Stone's como antigamente... O jeito é eu rever "Platoon" e "Nascido em 4 de Julho"...
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