Aprender a viver no mundo de Abel Ferrara. Se fosse para resumir em uma frase o que Sedução e Vingança (Ms.45, 1981) é e representa, não existiria melhor definição. Existem alguns filmes que parecem ser sínteses de cada cineasta ou mesmo aqueles que parecem representar de forma pura o seu cinema, seu mundo.
Ms.45 é uma básica e curta história de vingança. Onde Thana(Zoe Lund) cai primeiramente como a grande vítima, parece uma isca, isca esse que esta preste a ser fisgada pelo submundo de Ferrara, sujo e podre, de prostitutas, assassinos, golpistas e estupradores. Se Thana é o símbolo de um personagem mudo e tímido, novo nesse mundo, é quando estuprada que é reeducada aos moldes da nova York de Ferrara. Se essa mudez, que impede mais ainda sua comunicação, sociabilidade com outras pessoas é o motivo para seu deslocamento nesse mundo que ela não faz parte, sua deficiência se torna então no trauma que agora busca por vingança, na frieza que agora consome o seu corpo, agora sim, esta integrada ao submundo de Ferrara.
Submundo esse sem voltas, durante a perigosa noite nova-yorkina, esta lá mais um complemento dele, uma armadilha, o inverso do que filmado até então. Se havia mulheres sendo abusadas por cafetões, homens pervertidos paquerando mulheres, aos poucos Thana faz questão de se aproximar, de usar sua beleza como isca daqueles que uma vez já se aproveitaram. Essa loucura, porém, libera no mundo de Ferrara, aquilo que faz seu cinema, no surto, onde não a mais distinção do bom e do ruim nas ruas de new York, apenas sujeira e mais sujeira.
E é freneticamente que Ferrara move seu filme. De tempo curto, logo no início da a nós a câmera subjetiva de Thana, a santa que estava prestes a ser batizada nesse mundo, de homens pervertidos, violentos. Por isso não demora muito para que toda a ação ocorra, Ferrara segue uma linhagem direta e objetiva do que vai acontecer com seus personagens, de maneira violenta e agressiva, constrói o pensamento, a insanidade mental de um personagem puro, desmoraliza seu mundo e o põe de inocente para culpado, de vítima para assassino rapidamente em sua narrativa. Acompanhamos como se fossemos Thana, com algum “senso” de justiça, mas logo Ferrara parece camuflar aquela garota tão ingênua no meio daquela multidão nojenta da grande cidade.
A narrativa de Ferrara parece viajar em um universo transitório não apenas de Thana para aquele mundo, mas também do próprio espectador, que desconhece os males de seu mundo. Cheio de metáforas, Sedução e Vingança (Ms.45, 1982) age conforme os acontecimentos, a conta de mortes de sua protagonista aumenta, construindo um nível de surtos e matanças cada vez maior. Como em Carrie, o mundo desaba de vez e propõe um acerto de contas, entre as verdadeiras bestas, feras e a inocência, que agora faz parte integral de tudo aquilo, de todo o inferno. A finalização de Ferrara (não menos que genial) traz todos os pecadores para o enfim, dia do juízo final.
bom texto, top 3 do Ferrara.
Valeu Darlan. Sem dúvidas, esse é um dos melhores do Ferrara, mas ainda preciso ver muita coisa dele.