A primeira vez que tive contato com "Ocean's Eleven" o que me deixou mais surpreso foi a quantidade de 'nomes de pesos' encabeçando o elenco. Fiquei pensando: "Qual o orçamento dessa bagaça"? Posteriormente fiquei sabendo que George Clooney, havia se tornado amigo de Soderbergh quando filmaram o ótimo “Irresistível Paixão”. Clooney comprou o roteiro, convenceu Soderbergh a fazer o filme (quando o cineasta disse que queria tirar férias, Clooney sugeriu que não havia férias melhores do que comandar uma grande farra de três meses em Las Vegas que migué violento hein? Rsrsrsr). Depois, o próprio Clooney ainda negociou a participação dos atores milionários. Se Brad Pitt e Julia Roberts no mesmo filme já simboliza muito dinheiro, calcule quanto seria gasto para juntar a eles o próprio Clooney, Matt Damon, Andy Garcia e mais um punhado de colegas talentosos e menos conhecidos, como Don Cheadle. Resposta: nada. Pelo menos adiantado. Todo mundo trabalhou em troca de percentagens de bilheteria, algo raro em projetos de estúdio em Hollywood, mas que acabou dando incrivelmente certo! O filme é delicioso e ótimo!
Onze homens, liderados por Ocean (Clooney, lógico), planejam saquear os três maiores cassinos de Las Vegas, numa única noite. Sustentados pelo excêntrico empresário Terry Benedict (Andy Garcia), o Bellagio, o Mirage e o MGM Grand possuem o sistema de segurança mais completo e complexo do mundo. Somente uma equipe de especialistas na gatunagem poderia efetuar o roubo. Pois bem. Rusty Ryan (Pitt) abandona as "aulas de Poker para estrelas promissoras de Hollywood" a fim de ajudar o amigo Daniel Ocean. O trombadinha Linus Caldwell (Damon), também entra no time. Basher Tarr (Cheadle), um perito em explosivos, soma-se à lista, que ainda tem dois irmãos motoristas, um empresário da jogatina, um mestre dos disfarces, um hacker, um falso crupiê e até um acrobata chinês!
Com a onda atual de refilmagens que domina a indústria, não seria difícil adaptar um tema tão atual quanto a história dos ladrões charmosos que decidem roubar uma série de cassinos numa única noite. Não assisti ao original dirigido por Lewis Melistone vencedor do Oscar por "Sem Novidade no Front" e encabeçado por Frank Sinatra e Dean Martin, mas hoje essa fita por bem ou por mal caiu no esquecimento. Soderbergh vinha do Oscar de Melhor Diretor por "Traffic" e conseguiu entregar um filme pipoca descerebrado mais totalmente estimulante e envolvente.
Os diálogos, sempre econômicos, exalam ironia por todos os poros. A trilha sonora é sublime, uma coleção impecável de soul e funk dos anos 1970. A fotografia (novamente de Soderbergh, sob o pseudônimo de Peter Andrews, algo que ele já havia feito em “Traffic”) carrega nas cores quentes – especialmente no vermelho e no laranja, típicas da Cidade do Néon. Tudo perfeito, sem exageros, para não retirar a atenção do enredo. Todo o elenco parece estar se divertindo horrores nas filmagens e o clima descontraído é imergido na tela. O filme rendeu duas continuações, a segunda trazendo Vincent Cassel a trupe e o 3º contando com o gênio Al Pacino. Por mais que as duas sequências não sejam tão boas quanto a original, entretêm otimamente.
No fundo, Onze Homens e um Segredo é um elogio da astúcia, da malandragem, do saber-fazer. Elogio do cinema como questão de masterminds, de controladores do espetáculo tanto quanto de artesanato, do cozer e descozer de um fio ou do montar e desmontar de máquinas. Com uma característica acima de todas: charme. O grande assalto acontece sem barulhos, sem lances baixos, sem disparos de armas e inclusive sem cabelos desalinhados. É um golpe quase que imaterial. Dada a natureza do filme, nada mais natural que isso. Mas dado o cinema de Soderbergh, geralmente muito pouco físico. Por mais que Soderbergh seja um cineasta irregular, esse permanece sendo um dos melhores e mais charmosos filmes de roubo da história...
Realmente Cristian, parte técnica de Soderbergh nunca decepciona, vide "Contágio", "Traffic" e "Che"...
Obrigado pelo elogio...
Até o chato À Toda Prova é muito bem feito.
Sim sim! "À Toda Prova" é ruim mas tecnicamente irretocável...