O requinte visual salta aos olhos do espectador de O grande mestre (Yi dai zong shi, 2013), assim como as coreografias muito bem ensaiadas de seus personagens, versados em artes marciais. Entretanto, essas parecem ser as únicas qualidades do filme de Wong Kar-Wai, que retorna à direção após um hiato de seis anos. A obsessão pela passagem do tempo é outra constante do realizador chinês que aparece aqui, tornando este um filme de lutas incomum, com idas e vindas ao passado e ao presente sem qualquer aviso prévio, além de metáforas visuais que contribuem para uma abstratização da imagem. No aspecto musical, vale aguçar os ouvidos para as composições italianas que acompanham algumas cenas, o que revela outro hábito de Kar-Wai: selecionar canções já existentes, sobretudo de línguas românicas, para as trilhas de seus filmes.
Todos esses elementos reunidos funcionam como estofo dramático de uma narrativa que coloca em discussão conceitos como honra e orgulho, tão caros ao povo ocidental. A base para o roteiro vem de uma figura real: Yip Man, interpretado por Tony Leung Chiu-Wai, habitual colaborador do cineasta, se tornou conhecido no Ocidente por ter atuado como mentor de ninguém menos do que Bruce Lee. Passada nos anos 30, a história acompanha o momento em que ele derrota um grande e reverenciado mestre e, com isso, compra uma tremenda briga com sua filha, Gong Er (Zhang Ziyi). O relacionamento entre eles, à primeira vista, parece uma incógnita, mas essa impressão é tão somente derivada da montagem ora frenética, ora vagarosa de William Chang, pois o que se tem é mais um daqueles casos de amor recíproco não admitido desde o início.
Além de ter sido a quebra de um longo jejum de Kar-Wai, O grande mestre foi esperado como o seu retorno a universo das artes marciais, do qual estava longe desde Cinzas do passado (Dung che sai duk, 1994) – que, há poucos anos, sofreu um processo de restauração e foi relançado em versão reduzida. Para os fãs do gênero, talvez o filme funcione melhor, mas os demais espectadores podem ser tomados pelo tédio de um filme que, visto em termos absolutos ou comparado com trabalhos anteriores do diretor, carece de brilho e vigor para manter a atenção em seu enredo. Com pouco mais de meia hora de uma série de batalhas, várias delas em noites chuvosas (um exercício de estilo dispensável), já é possível perder o interesse pelos rumos confusos que a trama vai tomando. Era preciso ir além das marcas formais consagradas do cineasta e imprimir características mais condizentes com um filme de lutas. Não se trata de haver uma obrigatoriedade em seguir uma cartilha, mas, mesmo como releitura de um gênero, O grande mestre se mostra falho.
Os bastidores do filme mostram que foram necessários seis anos de preparação e três de filmagens para entregá-lo ao público. É frustrante constatar que todo esse tempo não resultou em um bom trabalho, mas em um senão incômodo na carreira de um autor de Cinema que sabe envolver com histórias de amores transcendentais e percursos pela memória. A título de rápida comparação, o caso deste faz lembrar o de A origem (Inception, 2010), que também consumiu vários anos de elaboração e não alcançou toda a magnitude que se vinha propagando aos quatro ventos. Nem mesmo como cinebiografia há muitas qualidades em O Grande Mestre, pois a estrutura excessivamente episódica impede um mínimo de fluidez à narrativa, sempre entrecortada por letreiros indicativos de datas e alguns fatos históricos.
Nesse hibridismo anêmico, sobram poucas ressalvas positivas, e a principal delas são os efeitos sonoros, maravilhosamente sincronizados com as sequências de confronto. Não faltam inimigos voando para todos os lados, enlameando-se na chuva que insiste em cair e sendo arremessados contra vidros, portões e tudo o mais que houver pela frente. Seria até justo comentar que o som é o personagem mais interessante de todo o filme, apesar dos notáveis esforços de Chiu-Wai e Ziyi, intérpretes dos mais talentosos e conhecidos de seu país. Mas a culpa não é deles: com papéis mal escritos, mesmo os grandes atores acabam sem ter muito a oferecer, ao menos na maioria dos casos. Curiosamente, a Academia concedeu um indicação ao Oscar na categoria de figurino, o que não chega a ser um equívoco, mas um desvio do olhar do que realmente deveria ter contado. Entrevistado sobre o filme, Kar-Wai afirmou que este trabalho nasceu de uma ambição maior que a de Amor à flor da pele (Fa yeung nin wa, 2000) e comparou este a uma música e aquele a uma sinfonia. Pena que a reação provocada por essa sinfonia seja a sonolência.
Ótimas questões q vc pontuou, como a insistente chuva q não para de cair. Acho q o filme funcionaria se dividido em parte em trailers, em comerciais. Há estilo e quadros lindos demais para isso, cono a bela fotografía q comentou, mas como um filme, um longa metragem nao deu certo. Precisa-se mais q belas imagens pra criação de um bom filme.