Inicialmente, nos primeiros momentos do filme, me incomodei bastante com a forma com que ele se parece muito mais com um filme pra TV, do que cinema de fato. A estética é muito televisiva, acho que Ari Folman ainda não dominou a linguagem cinematográfica da forma com que poderia. Mas, ele dribla essa ressalva com uma competência que me chocou. Chocou porque eu não esperava muita coisa do filme, não imaginava que essa história fosse tão sensacional. Ele tem a trama inteira em mente, e a desenvolve de uma forma surpreendente. É um roteiro colossal.
Não consigo tirar o filme da cabeça desde que terminei a sessão. É realmente fascinante o que Folman fez aqui. A princípio, Robin Wright interpreta a si própria num futuro não muito distante, em que a tecnologia está chegando a níveis nunca vistos até então, e os atores estão sendo trocados por versões virtuais deles mesmos. Para isso, ela tem que assinar um contrato que a obriga a nunca mais atuar de forma alguma. Essa primeira parte do filme gera uma critica muito consistente, e mais que isso: serve como uma espécie de alerta, do tipo, "será que essa história é tão absurda assim?". O cineasta deve ter se baseado nos diversos exemplos de protótipos já existentes, que levam em conta o mesmo princípio usado por ele, onde atores mortos já foram recriados digitalmente para produções que vieram depois de sua morte. Isso não soa como familiar?
Cenas memoráveis são, então, colocadas em prática, como a primeira reunião entre Robin e o chefe das empresas Maramount, ou o seu escaneamento, onde o seu agente conta a história de como ele chegou até ali, e revela um pequeno segredo para manipular a sua atriz, com a intenção de extrair suas emoções. E que emoções... Robin Wright brilha nesse primeiro momento, em especial, principalmente pro dar a impressão de que acredita piamente na história que está contando, e sabe que é forte o bastante. Aliás, só dela aceitar ter interpretado a si mesma, num papel como esses, demonstra isso. É um desafio, a parte de qualquer tipo de egolatria ou coisa similar.
Aí que o filme dá um salto de 20 anos, e tudo muda e Folman entra num campo que ele realmente domina: a animação. E faz muito sentido pros caminhos que a história percorre, essa entrada. Bom, a parte do desenvolvimento, que toma aqueles e ainda outros rumos que víamos momentos antes, o Congresso Futurista, que dá título ao longa, é uma coisa deslumbrante em forma de animação. Impecável é a única coisa que define toda essa parte do filme. Os detalhes ao redor do que vemos na tela, as diversas salas e vários ambientes pelos quais Robin passa dentro dessa alucinação... é tudo perfeição. E é nesse momento que o filme realmente vira uma sci-fi futurista.
Na segunda parte, então, se expande bastante de tal forma que me parece insuficiente que esse filme seja a única coisa a explorar aquele universo. É imenso demais. E não é que ele não explora bem, porque vai até onde pode. A viagem lisérgica proposta aqui passa dos limites da mente de Robin e chega num ponto em que a coisa fica tudo muito real, sem nunca primar pelo mistério - até por sua protagonista pouco saber sobre o que está acontecendo ao seu redor. Desconheço o livro de Stanislaw Lem (acredito que por pouco tempo), e ouvi dizer que o longa mudou bastante coisa da obra; não quis copiar propriamente dito, mas o trabalho de Ari Folman nesse roteiro "inspirado" é tão maravilhoso, mas tão maravilhoso, que acho que valeu bastante a pena. Espero que os fãs do livro não encanem com a adaptação, e principalmente com seu bonito e esperançoso final.
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