Giuseppe Tornatore é mais lembrado pelo clássico "Cinema Paradiso" de 89, filme dirigido e roteirizado (ao lado de Vanna Paoli) por ele. Menos conhecido e lembrado, Tornatore também dirigiu e roteirizou (agora com a parceria de Luciano Vincenzoni) o filme "Malena", que relata de forma comovente e suave a primeira paixão de um rapaz e seu amadurecimento.
A história se passa na Sicília, ao sul da Itália. É 1941, e o país acaba de entrar na Segunda Guerra Mundial. Enquanto todos os adultos do vilarejo estão em alvoroço e com os ouvidos grudados ao rádio, Renato (Giuseppe Sulfaro), um rapaz de 13 anos, pouco liga para tudo isso. Logo, sua vida iria mudar, mas a guerra pouco o influenciaria. A primeira grande novidade é que Renato ganha de seu pai uma bicicleta, e agora ele poderá andar com ela por toda a cidade com seus amigos. E é graças a eles que o menino conhecerá a personagem-título: Madalena, a quem todos chamam de Malena (Monica Belucci), uma bela, misteriosa e sensual mulher. Filha do professor surdo da escola, seu marido foi convocado para a guerra, deixando-a a mercê dos homens da cidade, que a desejam tão ardosamente que começam a desrespeitá-la. Isso provoca a inveja e a ira das mulheres do lugar, que passam a humilhá-la e maltratá-la.
Mas o sentimento que Renato cultiva por Malena é diferente. Ele não só sente por ela uma atração sexual, mas algo maior e mais complexo. Logo, sua paixonite platônica toma os ares e características de um amor mais denso: devoção, obsessão, desejo, dor, ciúme e ódio. E Renato sente tudo isso sem nunca ter falado com sua musa inspiradora. Na verdade, o amor do rapaz começa por uma imagem, pela beleza e sensualidade de Malena. Ao poucos, quando começa a vigiá-la, ele vai conhecendo a personalidade da moça, e o quão solitária (e apaixonada pelo marido) ela é. Esse seu amor só faz aumentar e ele passa a protêge-la dos comentários e ações maldosas das outras pessoas. A devoção de Renato e seu amor não consumado é o ponto chave desse filme.
A direção de Tornatore consegue idealizar Malena para o espectador, da forma como Renato a vê. Por isso, toda a vez que ele se aproxima dela, nós não apenas vemos mas também sentimos o seu nervosismo. Ficamos tão ansiosos como ele. A locação é linda e muito bem fotografada por Lajos Koltai. E a trilha sonora de Ennio Morricone (também de Cinema Paradiso) está perfeita, merecidamente indicada ao Oscar.
As atuações também são muito boas. O estreante Giuseppe Sulfaro, que ganhou o papel após sua tia enviar uma foto sua, está ótimo, conseguindo levar o filme muito bem como o protagonista, o sentimental e apaixonado Renato. Ele nunca parece piegas ou exagerado. Passivo ante alguns acontecimento e ativo perante outros, ele dá o tom certo ao personagem. Monica Belucci, lindíssima, não tem muitas falas. Sua atuação é mais sublime, ela usa mais os olhos para revelar o que se passa com sua Malena: toda a tristeza e solidão da personagem estão descritas em seu olhar. E a sensualidade, é claro, está presente.
É mister salientar que o filme também aborda outro assunto: o amadurecimento de Renato. A paixão avassaladora por Malena faz o rapaz mudar seus conceitos sobre a vida, o faz reparar em outras coisas, o faz ver o quanto a vida (e as pessoas) pode ser dura e injusta, e também o faz ver a crueldade da guerra. Além, é claro, de que Renato começa a ter suas primeiras descobertas sexuais. Esse amadurecimento do personagem é simbolizado por coisas banais: quando ele começa a se sentar na cadeira do barbeiro e não mais no banquinho ou quando o começa a usar calças, que naquela época era símbolo de amadurecimento do homem.
"Malena" é uma belíssima história de um amor não consumado, de uma devoção única e de uma obsessão natural aos apaixonados. A descoberta do amor e do amadurecimento. Um excelente trabalho de Tornatore!
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