Enquanto assistia "Desencanto", minha mente ia notando que este longa influenciou, de forma bem clara, o filme romântico de Richard Linklater feito em 1995, Antes do Amanhecer. No entanto, eu tenho que dizer que prefiro o longa de 95 do que este aclamado longa de 88 minutos de David Lean.
Acontece que ao perceber a história que trata sobre melancolia, pesar e amargura por conta de um amor impossível, já me vinha a mente um estudo complexo e mais concentrado dos personagens principais. Mas a questão é que o filme derrapa no ponto que é o desenvolvimento de seus protagonistas, o filme não se concentra nos mesmos. Há também uma série de "distrações" em que o filme faz questão de mostrar. O principal erro do longa é este, de não ter conseguido fazer o espectador (pelo menos, este que vos escreve) conseguir sentir um grande afeto pelos personagens, por conta de ser muito raso. Não há complexidade nos sentimentos, é tudo muito mono-sentimental. Não vemos nenhum traço de outros sentimentos, além da amargura e o amor que sentem, mas não há mais nada, nem sequer uma tentativa de mostrar o porquê de se amarem tanto.
Eu esperava que a principal alavanca para desenvolver personagens em um longa romântico breve seria uma série de diálogos inteligentes, complexos e relevantes. Mas não acontece, é tudo muito: "eu te amarei para sempre"; "você sente o mesmo por mim"; "que amargura é esta que eu sinto", etc. Aliás, tudo é repetitivo, os encontros dos protagonistas nunca permitem sentirmos situações novas que iram trazer um pouco mais de conhecimento sobre o sentimento de cada um.
Por conta de trazerem personagens muito rasos, as atuações também são afetadas. A indicação de Celia Johnson ao Oscar de Melhor Atriz fora extremamente equívocada, ela está numa atuação que tende a ser, assim como a personagem, mono-sentimental. O próprio Trevor Howard também não consegue trazer nada de novo, intensamente mono-sentimental. Aliás, tudo fora a relação da personagem de Johnson para com seu marido e o Dr. Harvey são situações desnecessárias e bobas. Me respondam: para que aquela relação entre o personagem de Holloway e Carey? Puramente descartável.
Se há pontos positivos, é claro que há. A direção do Lean não é nada impressionante, mas o fato de escurecer as bordas da tela para enfatizar os pensamentos da protagonistas por meio de uma narração em off (um recurso que, neste caso, é preguiçoso e falho) trouxe uma densidade maior, mesmo que não tenha feito muita diferença. E Stanley Holloway e Joycey Carey, mesmo estando em situações desnecessárias, se encontram muito mais interessantes do que a própria trama principal, um ponto positivo, mesmo que surja de uma circunstância negativa.
Uma boa ideia que foi mal aproveitada. O roteiro, escrito pelo próprio Lean e mais dois tendo um argumento baseado na peça de Noel Coward, torna o que poderia ser um grande ponto de referência em uma história mal desenvolvida e sem nenhuma passagem de sentimento verdadeiro, mas possuídor de uma falta de cuidado e construção de um perfil mais convincente de personagens.
Espero que nos meus próximos filmes de David Lean, eu possa assistir filmes mais densos e mais bem estudados.
Obs: Este fora meu primeiro filme de David Lean, pode ser que quando você esteja lendo este comentário eu já tenha assistido mais de sua carreira cinematográfica.
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