Baseado na peça teatral Still Life de Noel Coward, Desencanto pode ser considerado o maior de todos os romances que se trata de Amor Impossível. Tudo isso se deve à ausência do medo de exibir aquilo que muitos tentam esconder, e à veracidade que está presente nesta pequena e rápida, porém, grande e inesquecível Obra-Prima, principalmente naquela época onde romances e relações deste tipo eram tido como graves escândalos e quebra de valores morais. David Lean, além de retirar a história da peça teatral de 1936, acrescentou mais detalhes ao romance, incluindo um pouco do seu vocabulário cinematográfico.
David Lean já mostra total controle logo na primeira cena do filme. Somos apresentados a um casal sentado numa mesa, numa lanchonete da estação de trem. O clima não é um dos melhores, suas expressões revelam que o dia ou o momento não é dos bons. Uma mulher chega e se acenta à mesa. Falando sem parar, sem perceber se está sendo ouvida ou não, a intrusa se esbalda em rever sua amiga e lhe contar todas as novidades, sem perceber o clima pesado que paira sobre a mesa. Os olhares do casal demonstram silêncio e desejo de privacidade. Até então não conhecemos ninguém e não sabemos do que se trata aquela pequena reunião. Depois de nos apresentar alguns Flash Backs, David Lean nos transporta novamente a esta cena, e o que era apenas uma cena comum entre três pessoas, este pequeno momento do filme se torna parte de nós, e passamos a vivenciar toda a tensão manifestada naquela mesa.
O casal que nos foi apresentado é Laura, uma mulher casada e com dois filhos e o Dr. Alec, que trabalha todas as Quintas-Feiras no hospital local. Ao se encontrarem por acaso, na lanchonete da estação de trem, os dois criam uma espécie de amizade durante as consecutivas Quintas-Feiras em que se encontravam no mesmo lugar e inevitavelmente acabam se apaixonando, mesmo sabendo que o romance não pode ir além de alguns almoços furtivos. Se tem uma coisa que aprecio nos filmes de romance são as formas de contar um história amorosa verdadeira e cotidiana. Laura era casada, tinha filhos maravilhosos e seu relacionamento com o marido não lhe dava motivo pra lhe trair. Porque então se aventurar numa paixão que acabara de se iniciar?
Nisso, a história contada pelo diretor acerta em cheio. Por meio de Flash Backs, a personagem narra em off, como se estivesse contando toda a verdade para o marido sobre a sua aventura amorosa. A forma como o filme aborda sobre o amor, é algo que raramente assisti. Nosso coração não é de pedra, não escolhemos o que acontecerá com ele, e para Laura, se apaixonar pelo médico Alec foi inevitável, apesar de sentir que nunca poderia ir mais além . E apesar de estar apaixonada, seus sentimentos ficam divididos, sua vontade de cumprir com os valores morais, a cobrava. Os momentos que passavam juntos, ao mesmo tempo que eram felizes, eram sufocantes. Poderia eles abrir mão de tudo e seguirem a vida juntos?
Repleto de cenas maravilhosas, Desencanto é um dos mais eficazes arranca-lágrimas da história do cinema, ainda que pouco conhecido. David Lean trouxe tanta sinceridade à história, contribuida pelas atuações explêndidas da dupla de atores Celia Johnson e Trevor Howard, que o filme se tornou um dos mais deliciosos de se assistir. A narrativa eficaz, nunca desmorona o filme e este permanece interessante a cada minuto, desde os passeios aos cinemas, até as cenas da estação escura e esfumaçada. Ao mesmo tempo em que o filme é triste e foge da maneira convencional de Hollywood, ele se torna bonito, esplêndido e lindo em toda a sua magnitude. A pureza e a beleza do filme é o que torna-o mais formidável. Em uma das cenas Laura diz: Corríamos, brincávamos e ríamos parecendo dois adolescentes que acabara de descobrir o amor." Bonito em toda a sua pureza, o que é raro ver nos dias de hoje, onde os romances se debilitam no meio de um roteiro totalmente fútil para exibir a vulgaridade.
Desencanto trouxe a primeira indicação ao Oscar para David Lean e a
Ficou muito bom esse texto. Ainda não tinha lido.
Gostei do destaque às cenas e dos comentários sobre a emoção que a história traz condensada em menos de 100 minutos. A gente acaba sofrendo junto com os personagens.