Um indivíduo olha para o céu, com seus 8 ou 9 anos de idade. O mundo, nessa fase, parece ser estranho, as estrelas parecem guardar enigmas além de nossa percepção, mas não ficamos calados, não consentimos. Os sons, a beleza natural, os planetas, as constelações, as galáxias, asteroides, buracos negros. Quando somos respondidos, não se sente satisfação, mas sim mais e mais dúvidas.
É essa vontade de descobrir o que há por trás de tudo, de saber os “bastidores” desse grande espetáculo do céu que move Eleanor (Jodie Foster). O olhar que temos sobre o mundo quando crianças é praticamente o mesmo da cientista. Contato (Contact, 1997) é, mesmo com seus temas e dilemas recorrentes do assunto, uma fábula sobre a humanidade enquanto apenas um bebe, uma criança que curiosa, pergunta como tudo funciona. Zemeckis conduz seu filme de maneira incomum, onde praticamente os efeitos visuais e sonoros, que garantem a atmosfera em tom lunático e aventureiro, são os verdadeiros responsáveis por contribuir para que seja de fato uma ficção científica, quando na verdade, guarda mais esse gênero e prefere, ainda que de maneira não tão profunda, dialogar através das imagens, ação e diversos pensamentos sobre a fé e a ciência.
A narrativa de Contato (Contact, 1997), embora aproveite de tudo o que sua qualidade de blockbuster lhe reserva aproveita, assim como fez Cameron em Avatar (idem, 2009), para inserir sua própria visão. Desse modo, o filme de Zemeckis torna-se um thriller (através da verdade, obviamente), uma aventura, ação de forma mais densa, para implantar seus temas de forma indireta, naturalmente e o mais principal de todos – que os liga - por meio de diversos flashbacks, a infância e a busca incessante pela verdade.
Eleanor e de um modo geral, a área da ciência, são como jovens que ainda não aceitam uma resposta injustificável, sem provas. Sendo assim o discurso do filme de Zemeckis tende ao lado religioso? Parece que não. A visão da ciência e respectivamente dos cientistas aqui é equiparável ao da religião, onde os dois com suas diferenças, ainda caminham ao mesmo alvo, a verdade. Se por um lado a fé permite consolar, também busca um caminho, praticamente idêntico ao da ciência, afinal ambos procuram uma realidade autêntica, onde haveria um ser ou força sobrenatural criadora do universo. O discurso de Zemeckis é implantado então de forma natural, pesando na balança os dois centros do mundo (ciência e religião), através da relação entre Eleanor e Joss (Matthew McConaughey), do ceticismo até a fé, uma relação amorosa.
O ato de compreender, entender como gira o mundo, o que há para fora de nossa pequena galáxia e sistema é inserido por Zemeckis de forma peculiar e despretensiosa, não há pressa em saber como tudo funciona. O que é a vida? Compreender ela é complicado, talvez impossível, mas ao mesmo tempo que frustrante por ser logicamente algo complexo, é também o nosso maior mistério. Sorte (?) a nossa que temos essa dúvida eterna, poética, cientifica, religiosa e seja lá mais o que for. O maior problema do ser humano é que às vezes se lembra que é insignificante nesse vasto e infinito espaço, que nada é absoluto, que somos limitados, que vivemos atrás do enigma da arte; de responder, representar, descrever e criar o inexplicável. A frase de Clarice Lispector, parece encaixar perfeitamente em Eleanor; “[...] De vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que eu não entendo”.
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