Minha Maratona Woody Allen:
CELEBRIDADES (1998)
No período entre bons filmes, ótimos filmes e obras-primas, Woody Allen entrega um projeto que geralmente fica entre o mediano e o ruim mesmo. Este “Celebridades” está no grupo dos medianos (lançado entre o excelente “Desconstruindo Harry” e o ótimo “Poucas e Boas”). Mas mesmo os bons filmes, se forem atuais (leia-se de 1995 pra cá), sofrem por serem taxados de menores e/ou péssimos, o que é uma pena, já que boa em parte da carreira recente do cineasta, tivemos a oportunidade de assistir a filmes muito mais voltados para o grupo dos “bons/ótimos” do que para embaraços totais.
Apesar de “Celebridades” possuir uma série de defeitos, não tanto técnicos, mas mais de narrativa, é possível listar uma série de acertos. Alguns diálogos são muito bem desenvolvidos, bem como o desenvolvimento e aprofundamento de alguns personagens. Além disso, a estética do filme (mais um em preto-e-branco) é eficiente ao retratar o sufocamento de criaturas tristes e melancólicas em meio aos flashes e ao falso glamour da vida de celebridade.
Basicamente dividido em dois núcleos, fato comum à filmografia do diretor, o filme acompanha a vida turbulenta de Lee Simon (Kenneth Branagh), um jornalista infeliz que tenta ser um grande escritor, e a guinada na vida de sua ex-esposa, Robin Simon (Judy Davis) que, de histérica e traumatizada professora, se torna uma mulher que começa a acumular felicidade, mesmo achando que não merece. Nesse meio, ambos conhecem figuras importantes tanto do meio artístico como do meio das celebridades propriamente ditas (lembrem-se: artista é algo totalmente diferente de celebridade).
Por mais que a premissa não seja novidade na filmografia de Allen, mas não deixa de ser interessante, o roteiro falha ao não conseguir ligar organicamente cada um dos acontecimentos, tornando-se uma narrativa episódica no pior sentido do termo. Praticamente não sentimos o tempo passar para nenhum dos personagens e, ao descobrirmos, por exemplo, que dois deles estão para se casar, ficamos espantados por testemunhar seu primeiro encontro poucos minutos antes. Assim, episódios aleatórios passam pela tela, apresentando uma série de personagens com pouco potencial dramático (o vendedor de imagens de Cristo que sangram nas mãos, ou o padre-celebridade), com raras oportunidades para aprofundar relações, como a top model de Charlize Theron, a editora Bonnnie de Famke Janssen e o teen-star excêntrico de um Leonardo DiCaprio recém saído de “Titanic” (e Woody Allen aproveita a superexposição do, na época, jovem ator).
Mas por mais defeitos de estrutura que se acumulam ao longo do filme, ainda sim é possível presenciar momentos realmente muito eficientes, como o encontro absurdo de Lee com a personagem de Theron, ou o momento em que o protagonista se declara para Nola (Winona Ryder), além, claro, de tiradas ótimas dos personagens (“O que vocês fazem quando não estão procriando?”).
Quem acompanha os filmes de Woody Allen sabe que sua persona está sempre presente na figura de um personagem excêntrico, com complexo de inferioridade, mas com intelecto avançado e que, justamente por isso, se encontra deslocada em seu habitat. Quando não é o próprio cineasta que interpreta tal personagem, Allen faz questão de escolher a dedo um ator competente que o faça. E aqui este personagem não só é feito com extrema competência por Kenneth Branagh, como também temos sua versão feminina nas mãos de Judy Davis. Branagh se sai admiravelmente bem na experiência, transferindo para si alguns dos trejeitos típicos do diretor e, absorvendo-os, faz com que apareçam de forma extremamente natural e orgânica. Já Davis acaba exagerando em alguns pontos, o que enfraquece seu desempenho, principalmente nas gags físicas – o que é uma pena já que, em alguns momentos, Robin cresce incrivelmente ao expor seus sentimentos de forma tão sufocante e desconcertante (a cena em que pede aulas particulares a uma prostituta acerca de sexo oral é hilária e melancólica ao mesmo tempo até o momento em que há uma encenação física de como a personagem realiza tal prática).
Mesmo irregular, “Celebridades” é um exemplar a ser visitado na obra do cineasta, e ainda que não seja o definitivo sobre o showbiz (existem vários outros filmes da carreira de Woody Allen que o retratam melhor), o filme é amargo o suficiente para expor o vazio que estes seres humanos enfrentam e a dificuldade de se relacionar e buscar a felicidade, que ao longo do filme, parece cada vez mais distante e afogada pelas aparências, restando apenas uma figura pequena e solitária em um píer gigantesco que está ficando cada vez mais distante.
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