Certos atores se identificam tanto a um gênero cinematográfico que fica difícil imaginá-los atuando em algo diferente. Os brucutus da década de 1980 são um exemplo disso. Alguém consegue imaginar Stalone ou Chuck Norris interpretando escritores românticos? Jim Carrey, por causa de seus filmes feitos na década de 1990(“O Máskara” “Ace Ventura” e “O Mentiroso”), acabou ganhando um carma de ser o cara das comédias pastelões. Em 1998, Jim fez um papel um pouco mais sério, em “O Show de Truman”, mas ainda cômico. Foi muito estranho vê-lo em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”. Jim Carrey sem caretas, sem piadas, fazendo um papel dramático. Uma agradável surpresa.
Após ter descoberto que, por algum motivo, sua mulher fez uma espécie de terapia para esquecê-lo completamente, Joel Barish (Jim Carrey) resolve usar o mesmo método para também esquecê-la. Mas, no meio do processo, após ter relembrado os seus momentos com ela, Joel desiste, e, dentro do seu subconsciente, tenta interromper o processo. Nesse momento se inicia uma jornada pelas lembranças de Joel, passando por desde a mais constrangedora e vergonhosa memória até os seus últimos momentos com Clementine (Kate Winslet). Enquanto isso, Joel descobre que Patrick (Elijah Wood), está roubando os objetos que rematem à Clementine, com o objetivo de conseguir conquistá-la.
Tecnicamente falando, Kate Winslet é a melhor do filme, chegando a ser indicada ao Globo de Ouro e ao Oscar por essa atuação. Ela consegue demonstrar a personalidade forte da sua personagem, toda a sua impulsividade, que é o principal atributo dela, que define suas ações. Tom Wilkinson, Kirsten Dunst e Elijah Wood também fazem trabalhos extremamente satisfatórios. Mas o destaque do filme acaba recaindo mesmo para Jim Carrey. Por mais que isso seja chover no molhado, mas ninguém esperava que ele conseguisse desempenhar um papel dramático com tanta perfeição, tanta naturalidade. Carrey acabou se tornando “o cara” do filme. Logo no excelente diálogo inicial dá para perceber como o seu personagem funciona, totalmente em contraste com o de Kate Winslet, e mesmo assim dá para perceber a ligação ente eles logo na primeira cena.
Vale destacar também o desempenho do diretor Michael Gondry. Olhando pelo seu histórico, Gondry não tinha experiência no cinema para fazer um trabalho como esse (ele era produtor de videoclipes musicais), mas conseguiu cumprir seu papel com muita competência, ainda que dê para notar sua inexperiência em alguns momentos, como no início da terapia de Joel e no alongamento desnecessário de algumas sequências, como as memórias do protagonista. Todas as tomadas do filme foram boas, mas aquelas que acontecem dentro da cabeça de Joel, em especial aquelas com o cenário escuro e só uma luz apontada para o rosto de Joel e às que voltam à adolescência e infância do protagonista, são espetaculares. Outro ponto forte do filme (talvez o mais louvado pelos críticos de cinema) é o roteiro, escrito em parceria por Gondry e o aclamado roteirista Charlie Kaufman, conhecido pelo seu trabalho em “Quero ser John Malkovich”. Mesmo com as reviravoltas, a trama se desenrola de maneira brilhante, sem perder o fio da meada em nenhum instante e com um final inesperado e extremamente satisfatório.
Esse é um tipo de filme que o espectador se envolve. É impossível não sentir simpatia pelo casal protagonista e não torcer por Joel na sua tentativa de não esquecer Clementine. Da mesma forma, o espectador também acaba criando certa antipatia por Patrick, a partir do momento em que ele tenta tomar o lugar de Joel. Ao decorrer da jornada de Joel pelas suas lembranças, ao se identificar com as situações ali apresentadas, o espectador passa a se colocar no lugar dos protagonistas. Passa a imaginar o que o levaria a fazer esse tipo de procedimento. Se, mesmo por uma decepção muito grande, vale a pena apagar as melhores lembranças da sua vida por isso?
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