Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Poucos meses atrás, o circuito brasileiro de distribuição de longas metragens enfrentou um notável impasse. O blockbuster estadunidense “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1” abocanhou quase a metade das salas de cinema do país – mais especificamente, 1300 salas ou 46% dos complexos cinematográficos nacionais. Naturalmente, tamanho recorde culminou num significativo debate: apesar da enorme popularidade da franquia e dos generosos lucros quase espontaneamente gerados para as salas e redes de cinema, seria justo que um único blockbuster estadunidense quase monopolizasse esse complexo de distribuição? O que seria afinal das demais empreitadas cinematográficas, em especial as não vinculadas aos grandes estúdios – o chamado “cinema independente”? Como essas outras obras de arte, igualmente necessitadas de um público, encontrariam uma distribuição saudável em um espaço tão limitado? Pior: o que seria do cinema independente produzido no próprio país, já tão carente de espaço e agora ainda mais prejudicado pela concorrência quase predatória do blockbuster estadunidense?
De fato, não demorou muito para a própria Ancine estabelecer, para a partir do ano de 2015, um limite para a ocupação dos blockbusters no circuito brasileiro de distribuição. Mas a despeito das possíveis discussões acerca das implicações dessa nova medida ou da própria visibilidade das produções nacionais (comerciais ou independentes), tal episódio nos leva a questões mais abrangentes. Não apenas no Brasil: em quase todos os países nos quais o Cinema possui um lugar de relevância no convívio social ou na produção cultural, o blockbuster estadunidense ou o “arrasa-quarteirões” detém um destaque ou mesmo uma posição dominante no complexo de lançamentos cinematográficos. Em verdade, a indústria cultural como um todo, seja a partir do Cinema seja a partir de outras modalidades artísticas (como a Literatura, o Teatro e a Música) exerce um verdadeiro monopólio em termos de holofote e distribuição, ofuscando dessa forma todas as demais produções independentes ou “autorais”. Aliás, perante o domínio desleal ou voraz dos blockbusters, dos best-sellers ou dos hits, é natural e até compreensivo um certo ressentimento nutrido tanto pelos autores quanto pelos admiradores das produções culturais alternativas (ambos, no caso, prejudicados pelo espaço limitado que a indústria cultural acaba lhes reservando – sobretudo os primeiros).
Esse ressentimento, por fim, só aumenta quando a indústria cultural ocupa o mercado com obras superficiais ou mesmo dotadas de conteúdos ultrapassados e conservadores, opostos muitas vezes às reflexões e percepções mais instigantes ou complexas que o espaço alternativo deseja oferecer ou simplesmente propor – e o ressentimento torna-se ainda maior quando a superficialidade da indústria parece influenciar o espectador a tal ponto que este cria uma resistência quase espontânea à outra produção artística (seja pelo seu conteúdo, seja pelo seu formato ou estilo). No entanto, e agora detendo-se mais especificamente ao Cinema, o “arrasa-quarteirões” não precisa necessariamente ser considerado um poço de superficialidades ou um motivo de desprezo. Apesar da boa dose de produções covardes e medíocres, o blockbuster pode oferecer, mesmo em sua preocupação quase exclusiva com a narrativa, uma obra de arte inteligente, sensível e mesmo perspicaz ou instigante. O próprio “Jogos Vorazes”, pivô da discussão, era um filme que oferecia uma brilhante alegoria a respeito da guerra política moderna movida pelo poder das imagens publicitárias. E se o cinema independente evoca com frequência uma análise calorosa acerca de suas propostas, teses e transgressões, o cinema comercial não só é passível de profundas análises como também deve ser igual e ferozmente analisado para a compreensão justamente dos motivos pelos quais exerce tamanho apelo perante a massa. No fundo, o blockbuster também pode ser um filme autoral, mesmo sendo a peça de um sistema de alienação cultural.
Mas é desse “atrito” entre o cinema independente e o cinema cultural (e após essa extensa introdução) que chegamos a “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, novo filme do cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu. A partir das brilhantes estratégias de sua direção e da perspicácia de sua envolvente narrativa (sustentada por grandes atuações), “Birdman” é um belo e ácido retrato desse aparente conflito entre a indústria cultural e a produção autoral, bem como da redenção e liberdade, proporcionadas pela Arte em si tanto em relação aos artistas quanto em relação aos espectadores. O filme, no caso, acompanha a angustiante rotina de Riggan Thomson (Michael Keaton), ator que fez muito sucesso no passado ao interpretar o protagonista homônimo dos primeiros filmes de Birdman, um super-herói já convertido em ícone cultural. Decadente após abandonar o papel que o consagrou, Riggan, em busca do reconhecimento de seu talento como ator, decide dirigir, roteirizar e estrelar uma peça por ele adaptada de um conto de Raymond Carver.
Prestes a estrear nos renomados palcos da Broadway, a peça, no entanto, enfrenta o descontrole emocional de quase todo o elenco, para o desespero do dramaturgo estreante. Temos Mike Shiner (Edward Norton), ator talentoso mas de difícil temperamento, Lesley (Naomi Watts), bastante nervosa por sua estreia na Broadway e Laura (Andrea Riseborough), namorada de Riggan, possivelmente grávida. Além disso, o ex-Birdman deve lidar com a ansiedade do agente Jake (Zach Galifianakis), inseguro em relação ao sucesso financeiro da peça, com a ameaça da crítica de teatro do NewYork Times, Tabitha (Lindsay Duncan) e ainda com a instabilidade emocional da filha Sam (Emma Stone), recém-saída de uma clínica de recuperação de dependentes químicos. Por fim, Riggan deve enfrentar suas próprias inquietações e inseguranças em relação ao projeto e a sua própria carreira como ator, manifestadas pela voz de seu terrível alter-ego: o próprio Birdman.
Esse drama trágico do ator assolado pela sombra do blockbuster é evocado pela própria estrutura do longa-metragem. Aliado ao excepcional diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, Iñarritu forja um plano-sequência de quase duas horas de produção, que acompanha quase ininterruptamente, em um super-realismo, o cotidiano frenético dos bastidores da peça, com a câmera percorrendo e invadindo os corredores, camarins e outros mínimos aposentos do teatro, em um fluxo absolutamente orgânico e imersivo. Mas eu disse “forjar” um plano-sequência? Sim, pois, apesar de vários takes verdadeiramente ininterruptos, o filme ainda conta com uma boa dose de elipses temporais e cortes além de transições entre momentos de maior realismo e de inesperadas alucinações fantásticas. No entanto, mesmo essas elipses, transições e cortes são de todo dissimuladas pelo aparente plano-sequência, o qual consegue, por exemplo, apresentar em um único “fluxo” uma sucessão de eventos temporalmente distantes e protagonizados pelas mesmas personagens. É dessa forma que Iñarritu consegue uma grande proeza ao desafiar a temporalidade natural da realidade a partir de uma técnica cinematográfica famosa justamente por capturar a duração real de um evento (e de fato mais elogios devem ser feitos à grande habilidade e competência da empreitada).
Naturalmente, o plano-sequência possui uma clara função narrativa. O único take, ininterrupto e dinâmico carrega consigo uma certa tensão: a tensão do nosso olhar “preso” àquele fluxo contínuo de planos e enquadramentos, ansioso por não perder nada do que a câmera está apresentando e angustiado pela ausência dos cortes ou interrupções daquele fluxo. É por essa tensão que Iñarritu transmite a inquietação de suas personagens, em especial a do protagonista, mais e mais perturbado pelo que pode ser o seu maior triunfo ou o seu maior fiasco. Entretanto, a “trapaça” do plano-sequência de Iñarrritu e Lubezki também guarda outro significado. No caso, o cinema convencional, agraciado tantas vezes pelo blockbuster, tem como uma de suas prioridades o ritmo ágil de sua narrativa, a partir do qual cada cena deve possuir uma duração específica de maneira a não impacientar o espectador. O plano-sequência, mesmo que já utilizado em alguns blockbusters, é uma técnica que de certa forma desafia esse ritmo da narrativa tradicional, justamente pela captura de uma temporalidade “real”. Em verdade, pode-se dizer que o plano-sequência ganhou até mesmo uma “aura”, tamanha a sofisticação que ele costumadamente representa. No entanto, em “Birdman” temos uma técnica quase típica de um cinema de vanguarda ou de um cinema autoral sendo aplicada a uma narrativa de certa forma convencional, que ainda poderia ser apresentada a partir das convenções de um cinema regido pela montagem e pelo ritmo mais dinâmico (e de fato o enredo possui alguns clichês narrativos como o ator decadente ou o pai distante dos filhos).
Mas é esse o drama de Thomson, aqui interpretado com tanto vigor e sensibilidade por Michael Keaton. Oriundo das convenções de um blockbuster, o ex-Birdman deseja se livrar da aparente superficialidade dos seus trabalhos no cinema clássico para atingir a aparente sofisticação da arte autoral – aqui representada pelo Teatro, o lugar da dramaturgia viva e pura, liberta dos vícios e falsos talentos do “star system” hollywoodiano. Em suma, o protagonista é a narrativa convencional que deseja o refinamento e o reconhecimento simbolizado pelo plano-sequência. Aliás, essa busca do “ex-blockbuster” almejando os louros da “arte independente” também é simbolizada pelo próprio elenco do filme, haja vista nomes como Michael Keaton, Emma Stone, Naomi Watts e Edward Norton, atores e atrizes famosos por seus trabalhos em blockbusters, aqui utilizados para o “filme autoral” de Alejandro Iñarritu – e menção especial seja feita a Michael Keaton, o qual, assim como sua personagem, foi realmente consagrado a partir de sua interpretação de um famoso super-herói, o Batman dos filmes de Tim Burton (e tal como Thomson, Keaton não protagonizou nenhum projeto mais relevante após seu estrelato como o “homem-morcego”).
Todavia, a questão do “reconhecimento” que o plano-sequência ou, em última instância, a arte autoral representa leva a outro importante dilema do longa-metragem. No caso, é explícita a preocupação de Thomson com sua imagem pública como artista, com o devido reconhecimento de seu talento – e tal relacionamento ou preocupação com a plateia é, de certa forma, uma questão pertinente a quase todas as personagens da narrativa, vide a Lesley da doce Naomi Watts, ansiosa por uma boa aceitação do público em sua estreia na Broadway, ou o explosivo Mike de Edward Norton, quase negligente em relação a essa plateia por conta de sua atenção quase exclusiva ao seu desempenho no palco (embora esse mesmo trabalho seja feito em função de um público). Nesse sentido, inclusive, “Birdman” não deixa de propor uma reflexão de caráter universal, visto a preocupação constante de qualquer cidadão pela boa imagem que está apresentando nos diferentes círculos sociais que frequenta – sejam eles o meio profissional, o âmbito doméstico ou até o mero perfil de uma rede social. Entretanto, mesmo nessa via universal de reflexão temos a interferência do blockbuster. O “star system” de Hollywood muitas vezes influencia diretamente essa preocupação com a imagem pública, uma vez que são várias as pessoas cujo ideal imagético é o astro ou a estrela dos últimos grandes lançamentos hollywoodianos – e em um plano mais geral, se nossa sociedade contemporânea é uma sociedade regida pela imagem (ou melhor, pela boa imagem), isso se deve em grande parte à noção do estrelato ou mesmo do ícone veiculado pelo cinema estadunidense.
Thomson é uma vítima peculiar dessa preocupação com a boa imagem. Uma vez incorporado à “iconologia hollywoodiana”, o sujeito ressente-se justamente por essa imagem que o blockbuster lhe proporcionou, buscando fugir da sombra do estrelato ou do ícone em vez do contrário. Enxergando a superficialidade que a figura do super-herói representava, Thomson almeja a legitimidade costumadamente associada à arte autoral para, de certa forma, atingir uma própria auto-legitimação. Mais e mais assombrado pelo seu Birdman interno, Thomson deseja negar a sua própria superficialidade em uma genuína insegurança perante seu talento e sua personalidade como ator – um talento e personalidade, aliás, sempre ocultados pela fantasia do ícone, do homem-pássaro. Curiosamente, portanto, a arte independente torna-se a Hollywood de Thomson, o artista consagrado do palco, livre das amarras do “star system”, torna-se o seu ídolo particular, o astro ou mesmo o novo ícone que ele pretende admirar e seguir (e é Mike Shiner quem primeiramente acaba orientando o ex-Birdman, em uma brilhante cena de ensaio em que o ator recém-incluso na peça acaba orientando o próprio diretor iniciante).
Todavia, além de seu Birdman interno, Thomson deve lidar com a sombra de seu Birdman externo. Além dos inevitáveis holofotes da mídia, o ator encontra a resistência do próprio Teatro, personificada por Mike e, principalmente, pela crítica Tabitha, ambos igualmente receosos pela superficialidade do blockbuster, aqui ameaçadora pela vinda dessa ex-celebridade ao território quase sagrado do palco. Mas em vez de uma caricatura do artista independente que trata com desprezo e arrogância a produção industrial, Iñarritu é sensível o suficiente para indicar que tamanha resistência se deve mais a um genuíno (e justificável) ressentimento de artistas cujo espaço é constantemente limitado pelos monopólios predatórios da indústria cultural (tanto nos efetivos meios de distribuição quanto no próprio imaginário e afetividade do público). Isso é evidente na cena em que Mike, após se vangloriar de seus feitos como ator independente, atende, desconfortável, ao pedido de uma fã de Thonsom em ser fotografada ao lado do “Birdman” (com esta não reconhecendo o célebre ator de teatro) – e menção seja feita, aliás, à grande performance de Edward Norton como uma personagem implosiva e mesmo implicante mas ainda detentora de uma verdadeira paixão à arte do Teatro (e é interessante, inclusive, como Mike reflete a própria personalidade de seu intérprete, conhecido tanto por seu grande talento quanto pelo seu difícil temperamento nos sets de filmagem). Da mesma forma, a crítica do New York Times receia os males que o “star system” pode representar a todo um espaço aparentemente ainda livre das implicações comerciais e publicitárias de Hollywood (mesmo que seus receios cheguem a uma agressão exagerada contra o trabalho de Thonsom).
Mas além dos atores, dramaturgos e críticos, “Birdman” dá voz por fim ao próprio espectador, aqui personificado por uma personagem aparentemente subestimada pelas análises referentes ao longa-metragem feitas até então: Sam, interpretada com intensidade e irreverência pela talentosa Emma Stone. Sam, no caso, representa justamente o espectador alheio a esse mundo do estrelato, apesar de seu papel ativo de observador ou acompanhante desse mundo – algo simbolizado já na relação distante que a garota, assistente particular de Thonsom, possui para com o pai, o ex-astro de um blockbuster. E se todos os atores demonstram uma preocupação para com sua boa imagem como talentosos profissionais, Sam já se torna uma pessoa mais pragmática e mesmo crítica nesse sentido, uma vez que, estando “do outro lado”, a jovem reconhece a real significância que ela e todas aquelas pessoas possuem em relação tanto à massa nova-iorquina quanto à humanidade ou ao universo em geral (como bem demonstrado no desabafo explosivo contra seu pai ou na cena do papel higiênico).
Aliás, Sam reconhece a influência decisiva do espectador no reconhecimento desses artistas e desses espetáculos, e é interessante como, anterior à cena do embate entre Thonsom e a crítica Tabitha, Iñarritu mostra Sam alegando o poder de um vídeo de alta repercussão e popularidade na Internet – ou seja, a despeito das intenções do artista ou da crítica, o público é quem verdadeiramente dá as cartas. Além disso, é igualmente curioso como Sam seduz e manipula o próprio Mike Shiner, fazendo o ator orgulhoso ceder aos encantos de uma plateia interessada em usufruir de seus talentos. Mas é na relação amistosa que Sam nutre para com o ator independente e para com a figura paterna oriunda do blockbuster que se encontra a chave final de “Birdman” (e a partir desse ponto não recomendo a leitura para aqueles que não viram o filme). Mais e mais angustiado pela proximidade da peça, Thomson, em um último ato de desalento, acaba cedendo ao seu alter-ego. Em uma sequência de liberdade ilusória, o sujeito abraça o seu antigo super-herói alçando os voos empolgantes e artificiais que o blockbuster anteriormente lhe proporcionava.
No entanto, é a partir dessa entrega ao seu sombrio alter-ego que Thomson finalmente deslancha como o ator independente que tanto desejava se tornar. Estrelando uma peça que desde o início foi sua, o sujeito leva sua performance às últimas consequências quando literalmente atira em si mesmo no desfecho de sua trágica personagem – e é nessa total entrega ao papel que finalmente vislumbramos um corte no longa-metragem, em uma sequência alucinatória regida pela montagem na qual vemos figuras pop da indústria cultural tomando conta do tablado. O blockbuster, portanto, invade o palco. É como Birdman que Thomson torna-se um ator legendário, e de fato o tiro de sua ultra-performance no palco deforma seu nariz a ponto de este assumir um formato semelhante ao do bico da fantasia do super-herói – e até na celebração da imprensa vemos manchetes que anunciam um Birdman que sabe atuar, um ícone despido de sua superficialidade e surpreendente na nudez de seu talento (o ícone, não o ator).
É dessa forma que Iñarritu parece propor o fim de rótulos. Embora a indústria cultural represente tantas vezes um monopólio e uma alienação, o cineasta mexicano expõe o quanto a Arte em si, em seu absoluto poder e evocação, supera as divisões entre uma dita arte independente e uma dita arte comercial. Independente das intenções e circunstâncias, o blockbuster, assim como o autoral, sabe mexer com a sensibilidade de seu público, com o olhar de seu espectador. A beleza sensorial do Cinema instiga as visões, afetos e memórias da plateia, seja a partir das transgressões de uma técnica fílmica não-convencional, seja a partir da sedução de um simples ícone. É nesse ponto que voltamos à Sam. Embora distante da figura paterna, a garota possui um genuíno afeto para com a mesma. Apesar da arrogância e do distanciamento de Mike Shiner, a garota se interessa profundamente pelo ator. Mesmo com intensidades distintas, Sam se aproxima dos dois homens, nutre importantes vínculos com os mesmos, independente do que representam naquele cenário artístico pois ambos instigam a sua atenção. E no final somos como Sam. Não importa se é alguma pirotecnia do blockbuster ou uma contemplação vagarosa do “filme cult”: contemplamos com olhos grandes, suspensos e admirados as grandes e puras maravilhas que a Arte está nos apresentando.
O filme em si vem a ser uma obra-prima.
Adorei sua análise, Luís. Eu inclusive, após a sessão de Birdman, apesar de ter adorado, fiquei meio incucado com a aparente subvalorização do blockbuster que acontece no filme (em especial a sensacional cena em que o Birdman se exterioriza e materializa atrás dele e ele alça pleno voo como Ícaro - ou no fim das contas, apenas como o Homem-Pássaro?).
Mas após refletir, comecei a pensar um pouco diferente. E esse texto vem a consolidar de forma muito clara o que eu tentava organizar na minha cabeça. Muito bom.
Valeu Diego! Fico feliz que tenha gostado! 😁
E para mim, é isso mesmo. Não acho que seja um filme que subvalorize o blockbuster em detrimento da produção independente. Acho que o Iñarritu ativou um belo "foda-se" e eu particularmente concordo com essa visão dele...
E eis que soterrada abaixo das duas verborrágicas e pedantes críticas oficiais da iluminada equipe Cineplayers, se encontra uma verdadeira jóia. Está é, provavelmente, a segunda melhor análise que já li sobre a essência de uma determinada produção cinematográfica (a primeira continua sendo uma análise que li em um site de filosofia, sobre a Aurora de Murnau). Se este texto realmente surgiu, digamos, do filme para o papel, sem ter sido embasado em esclarecimentos já dados por terceiros, lhe dou meus mais sinceros parabéns!
PS: Traçar um paralelo com Barton Fink seria interessante: neste me parece que a indústria sobrepuja a verdadeira arte, enquanto que em Birdman o entretenimento é sobrepujado pelo farisaísmo dos “verdadeiros artistas”.