AO MESTRE, COM CARINHO
Idealizado por Stanley Kubrick e Steven Spielberg, A.I. - Inteligência Artificial (A.I., Artificial Intelligence, 2001) é uma obra que reúne o melhor dos dois mestres do cinema. Suspense, tensão, comédia, drama, fantasia, ficção-científica e muitas técnicas de produção e perspectiva invadem nossa mente por incríveis 2h e 30min.. Um mundo que somente dois gênios poderiam criar.
Com o mundo em colapso após uma catátrofe causada pelo efeito estufa, no futuro as pessoas não podem mais ter filhos sem autorização do governo, pois os recursos são escassos. Nessa realidade, os robôs tornan-se uma peça fundamental da sociedade, pois não consumem quaisquer outros recursos além de sua fabricação. E o professor Hobby (William Hurt) da Cybertronics, uma das maiores empresas de fabricação de Mecas (robôs) decide criar um meca criança capaz de amar. Mas não amar como as centenas de robôs-amantes que fabricam, mas sim amar de verdade, como um filho à um pai ou uma mãe. Assim, David (Haley Joel Osment, de O Sexto Sentido [The Sixth Sense, 1999]), o primeiro protótipo, é entregue à um casal, Monica e Henry, cujo o filho encontra-se em estado semi-vegetativo no hospital. Após alguma relutância, Monica começa a se afeiçoar a David e este a buscar o amor de Monica, sua "mãe". Porém, quando Martin, o filho de Monica e Henry, retorna do hospital, a vida da família é posta em risco pela inocência e ingenuidade de David e o ciúme de Martin. Sendo assim, David parte em busca de uma jornada para encontrar a Fada Azul, do conto do Pinocchio, pois acredita que ela o transformará em um menino de verdade e assim, Monica o amará como a um filho de verdade. Nesta jornada, David conhece o gigolô Joe (Jude Law), um meca amante fugitivo da polícia e os dois, em sua ingenuidade mecânica, passarão por muita coisa juntos.
O primeiro ponto de destaque em A.I. são seus esfeitos especiais, (indicados ao Oscar, assim como a trilha sonora), que são um show a parte. Os Mecas, os carros, a ambientação, o fantástico Mercado de Peles, tudo é expetacular!! E o que dizer da forte cena da destruição dos Mecas? Pesada, triste e bonita, com robôs dos mais variados tipos. A bela cena da perseguição na floresta lembra - e muito - outro filme do mesmo Spielberg, Guerra dos Mundos.
O roteiro é impecável (até onde pude alcançar, é óbvio), sem pontas soltas, passando do drama, para a aventura e para a comédia e para a fantasia, sem sair da ficção-científica, num timming invejável.
Mas a direção de Spielberg é o melhor do filme. E a sensação de estarmos assistindo a um filme legítimo de Kubrick é constante. O movimento da câmera, a perspectiva, a tensão - como nas cenas da tesoura e da piscina -, os closes, os planos....Kubrick sentiria orgulho e aplaudiria a obra de seu amigo. A cena em que David chega na Cybertronic e se depara com vários modelos dele mesmo é arrepiante!
As relações de Martin e David, e deste com o superbrinquedo Teddy - um ursinho que anda e fala (opa!!! alguém deve ter assistido A.I. antes de escrever um recente roteiro de comédia pastelona) - são muito bem construídas e trabalhadas. O ciúme de Martin é evidente e Teddy dá equilíbrio as ações do início ao fim do filme, parecendo entender melhor a gama de sentimentos das pessoas - orgânicas ou não - daquela casa. O convívio entre Monica e David, de tão bem trabalhado, é comico e dramático.
Haley Joel Osment está perfeito, assim como em O Sexto Sentido. O rostinho amigável e simpático do menino conquista a todos, mas quando seu talento é posto à prova, ele rouba a cena - ou roubava. Cenas como a da ira de David confrontado por outro David, a cena dos repetidos pedidos à Fada Azul no fundo do oceano, ou a emocionante cena do abandono na floresta, são para aplaudir de pé. E Jude Law não fica atrás. Com um personagem interessantíssimo em mãos, o ator faz um trabalho brilhante, dando vida e identidade à Joe. Com os dois em cena fica difícil não se envolver em suan busca, embora saibamos que não chegarão a lugar nenhum.
O filme parece transmitir uma mensagem aos casais que pretendem adotar uma criança, pois o tratamento diferenciado em comparação ao seu filho biológico, pode afetar para sempre a vida de um indivíduo, fazendo com que ele parta para uma jornada em busca de algo que jamais encontrará, pois sequer sabe do que se trata. E as cenas com David e Martin são fundamentais para essa hipótese. Monica não estava preparada amar David como seu filho, apenas tentou substituir Martin, ou suprir a falta dele.
Encerrando com um lindo e comovente final, A.I. é um dos melhores filmes de Spielberg, tanto na parte técnica, quanto na parte artística. Com dois atores do mais alto nível, um roteiro impecável, uma direção diferenciada, uma prdução digna de aplausos e uma alma kubrickiana, pode ser considerada uma pequena obra-prima do cinema de ficção-científica contemporâneo. Mais que uma homenagem à Kubrick, uma homenagem ao seu cinema.
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