Cocteau foi uma das bases para o surrealismo no cinema, na década de 30 ele contribuiu, com outros cineastas experimentais como Germaine Dulac, Man Ray, que simpatizava com o dadaísmo de Rene Clair e, e o mais popular diretor do estilo, Buñuel, no início da popularização do movimento dentro da arte. Sua fase inicial é lembrada principalmente pelo média-metragem Sangue de Um Poeta (1930), obra que viria a se confirmar como seu trabalho mais intenso e nervoso do surrealismo, embora fosse se aperfeiçoar anos a frente. Aí surge então sua obra prima, A Bela e A Fera, sua reprodução desse conto extraordinário atinge um nível poético assustador, por mais que o lado surreal seja mais sutil.
A importância de A Bela e A Fera transcende o próprio cinema, trata-se de uma obra realizada numa França em pleno pós-guerra, onde recursos para se investir no campo artístico eram escassos, mas dentro de toda limitação, Cocteau conseguiu um feito marcante ao criar uma obra essencialmente fantástica, como insinuações sexuais - mais amenos do que pregam - e que revigorou o cinema de seu país numa época de dificuldades artísticas.
A Bela e a Fera é um filme de estabelecimento, é uma mistura de conceitos novos empregados por Cocteau numa historia extraordinária, onde contos morais se fundem à fantasia e a temáticas adultas. Basicamente a obra parte da essência do conto, talhando a relação da personagem Bela com sua família, estabelecendo os conflitos pessoais e desenhando o cenário caseiro deixando claras as funções e colocações de cada um.
Logo após este momento de introdução, o desenvolvimento se concentra na relação gradativa da Bela com a Fera, onde a Fera, unindo motivações misteriosamente egoístas a uma abordagem doce e penosa, mantém a Bela aprisionada em seu enorme castelo. Lugar habilmente construído pela capacidade cênica de Cocteau para nos manter dentro da atmosfera sombria. La a Bela percorre corredores, vai e volta através deles, encarando os objetos surreais que surgem do nada, e por vezes numa câmera lenta assustadora e das mais geniais.
O filme, feito na metade da década de quarenta, estava bem à frente de seu tempo. Cocteau, como multiartista, tinha na sua natureza, explorar as possibilidades. Além de filmar numa época complicada, ele ousou em questões temáticas e evoluiu em relação a si mesmo em quesitos técnicos, como montagem reversa, slow motion e a própria direção de arte e a fantasia da Fera. Mas acima de tudo, o engraçado é que, nos fim das contas, ele simplesmente parece querer contar uma historia de fantasia, tanto é que humildemente nos pede, no início, imaginação de criança.
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