A Doce Vida (La Dolce Vita) de Fellini não tem nada de doce. Começo meu texto com uma declaração polêmica, haja vista que um sentido dúbio foi lançado. Alguns estão imersos numa dúvida: será que ele se refere a uma obra máxima como um filme pífio? Ou simplesmente cita a vida ambientada no filme por Mastroianni? Sei que esta dúvida persiste na cabeça de vocês, porém irei saná-la, no momento certo, mas irei.
Lançado em 1960, A Doce Vida literalmente divide opiniões. Para alguns, figura entre as obras mais aclamadas de todos os tempos, uma verdadeira obra-prima, um filme além do tempo e acima de qualquer suspeita. Para outros trata-se de uma obra enfadonha, chata, na verdade um porre! Pois bem, podemos perceber que o filme de Federico é um desses ame-o ou deixo-o, não é mesmo? A obra retrata Roma no início dos anos 60, a partir da vida de Marcello (Marcello Mastroianni) um Jornalista que vive entre celebridades e ricos num mundo marcado por um vazio existencial. Ele é um jovem que passa os dias procurando a felicidade de forma efêmera, em festas, sexo e bebidas. Quando Sylvia (Anita Ekberg - extremamente sexy), uma estrela de cinema famosa, chega a Roma, Marcello vai esperá-la no aeroporto e faz de tudo para passar uns dias com ela. E assim certa vez, quando volta a casa na manhã seguinte, Marcello descobre que sua namorada, Emma (Yvonne Furneaux), se envenenou por causa dele. Trata-se de um retrato de uma sociedade decadente e arrasada.
Pois bem, como a obra já foi ambientada, irei comentar nas linhas seguintes as minhas impressões. Confesso que enquanto assistia a película não conseguia enxergar a obra de forma tão grandiosa, porém tenho sorte: o filme de Fellini é daqueles que o espectador não consegue tirar da cabeça e ele cresce ainda mais a partir das reflexões. Talvez não o tenha entendido como grandioso enquanto assistia por conta de uma certa ignorância, quem sabe? As vezes, não estamos tão preparados! Mas voltando ao filme, A Doce Vida apresenta uma das fotografias mais belas da história do cinema. Um filme em preto e branco que ambienta de forma grandiosa toda a decadência e estupidez de uma sociedade alienada e vaga. A trilha sonora é composta por Nino Rota, preciso dizer mais alguma coisa? O filme de Fellini mergulha em uma vida cercada por conflitos existenciais e repleta de futilidades. É uma obra densa e dura.
A Doce Vida não apresenta uma narrativa contínua. A impressão que temos é que a película é composta por várias estórias paralelas: os personagens aparecem e somem a todo instante e não sabemos o desfecho que teve cada um deles. Talvez este seja um dos aspectos que mais incomoda o espectador não ambientado com filmes que buscam um rompimento com a facilidade habitual do cinema, além é claro do tempo de duração. Mas como disse anteriormente, muitas vezes é preciso maior concentração e uma reflexão mais atenta com relação ao filme. A obra de 60 é uma crítica forte a sociedade de espetáculo, coloca a mídia como o picadeiro e o ser humano como palhaço (perdão aos palhaços pois, assim como Fellini, considero uma profissão belíssima) dono de uma vida vaga e tediosa, porém maquiada por um aparente "glamour". São pessoas reféns de padrões débeis e fúteis em um sistema alienador e mesquinho. A Doce Vida é totalmente fora dos padrões convencionais e mercadológicos, é um filme para poucos! Um dia quem sabe, esses poucos não se transformem em muitos? O recado já foi dado, desde 1960: essa vida na verdade não tem nada de doce, pelo contrário, é extremamente amarga! Uma obra-prima de 1960 que poderia muito bem ser de 2013. Ainda cairia como uma luva!
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