Vista aos olhos de muitos como uma obra inovadora, que expõe, de modo fictício, os podres da sociedade contemporânea, Laranja Mecânica consegue, de modo produtivo, repassar uma mensagem que diante de todo um aprofundamento teórico e filosófico sobre a violência, se extenua, tornando-se um filme de proposta grandiosa, mas que limita-se, especialmente, às suas críticas realizadas. Porém é indiscutível a qualidade técnica ali presente. É indescritível a direção de arte, da técnica incomum e genial de Stanley Kubrick, dos detalhes, dos nuances, da trilha sonora e outros aspectos.
Desse modo, o filme consegue ocultar os inúmeros defeitos de seu roteiro, inclusive a total falta de ritmo, em que, a partir da ultima metade do segundo ato torna-se insuportável, onde esgota-se totalmente no terceiro ato. O fato é que Kubrick esquece totalmente as suas pretensões durante o decorrer do filme. Toda a sua genialidade é frontalmente combatida às críticas que o filme tenta realizar, ou seja, a partir do momento que as críticas esnobam-se, automaticamente o filme é diluído em excessos, que prejudicam totalmente o seu desenvolvimento.
Tendo como personagem central Alex De Large (Malcom McDowell), líder de uma gangue de arruaceiros, que comentem crimes por pura diversão, tais como estupro, violência, drogas e qualquer fato antissocial que possam lhes provocar prazer, sem se preocuparem com leis ou prejudicados. Porém, quando Alex é preso, ele é submetido a um tratamento de rebilitção antiquado e tão cruel quanto os próprios atos de sua gangue. Após liberto, Alex sofre com os preconceitos da sociedade, apesar de totalmente reabilitado.
É impossível fugir de comparações com outras obras do cineasta, como “2001: Uma Odisséia No Espaço”, a obra mais complexa e genial de Kubrick, onde o diretor demonstra enorme conhecimento sobre o ser humano e seus comportamentos. Em Laranja Mecânica, Kubrick novamente aprofunda-se no estudo do ser humano, mas de um modo menos complexo e mais polêmico, mais crítico. A exata diferença entre as duas obras está na forma subliminar como a mensagem a ser repassada é conduzida. Laranja Mecânica, nada mais é do que um filme que possui uma índole capaz de trazer uma reflexão abrangente sobre todos os temas que integram uma sociedade, todos os preconceitos, todos os tabus, por assim resumir.
Porém, a capacidade que o cinema tem é imensurável. Vai além de críticas, de polêmicas. Sim, podem e devem ser acrescentados à uma narrativa ambiciosa, mas não ao ponto de prejudicarem o próprio desenvolvimento narrativo e se estabelecer como prioridade. E este é o principal defeito de Laranja Mecânica. Na própria filmografia de Kubrick, um filme pode ser utilizado como exemplo, demonstrando que o diretor sabe perfeitamente conduzir uma narrativa coerente e crítica ao mesmo tempo: Glória Feita de Sangue.
A análise contemporânea dos fatos faz parte de todos os filmes de Stanley Kubrick. Filmes como os já citados, 2001: Uma Odisseia No Espaço e Glória Feita de Sangue trazem espessos conhecimentos onde são, acima de tudo, cinema, em sua melhor forma. Laranja Mecânica defronta com os limites sociais impostos, a tão falada mensagem é importante e reflexiva, porém óbvia. Denota as fronteiras de preconceitos regidos pela sociedade, a restauração, a humanização, as conclusões teóricas que defrontam com a prática. Resumindo, o homem tornou-se um objeto da sociedade, assim como em 2001 Kubrick nos evidencia que o homem é um simples objeto do espaço.
Porém abdicar as qualidades do filme é quase um crime banal. Realizar uma obra em pleno início da década de 70 contendo fortes cenas de sexo, estupro e violência, vitimado à censuras, à contrariedade, é algo simplesmente plausível. Ao clássico som, as cenas de violência, sem preocupar-se com exageros, acontecem, e o espectador deslumbra-se pela violência gráfica estonteante, por vezes gratuita. Uma pena esta obra ser tão limitada pelos mesmos motivos que o levaram a ser realizadas. Causa polêmica por aqueles que a ignoram, divide opiniões por aqueles que a questionam, obstinado por aqueles que a exaltam. Porém, tudo isso pode ser visto e sentido em 2001: Uma Odisseia No Espaço, e com maior qualidade.
3 (que na real é só uma nota, com ele mesmo disse, mas enfim).
Afora isso, acho bacana confirmar o que já pensei em outras ocasiões, o Kadu é um cara que quando quer, acrescenta pra caramba ao site, não só comentando, mas escrevendo um texto com contra-argumentos para o e outro usuário (que lerei quando sair). Ele pode dar umas boas exageradas às vezes, mas como o próprio Alexandre disse compreender, é o jeito dele e aqui ele foi até humilde (à sua maneira, claro) em certos pontos.
E novamente sobre o texto, não vou dizer o porquê de discordar dele, até por apresentar argumentos que outros já fizeram no fórum ou em outros textos pelo site, mas queria dizer que seria bacana ver mais desse tipo por aqui, pois querendo ou não, rendem discussões bacanas e que “agregam valor ao site” 😏
já to ansioso pra ler esse texto do kadu
\"mesmo assim respeito pq gosto é gosto.\"
Não faz sentido algum isso.
Se a pessoa quis dizer que gosto, cada um tem o seu... eu pergunto: qual a lógica dessa afirmação?
Esse negócio de mencionar que \"gosto é gosto\", \"gosto cada um tem o seu\" é conversa para tanger a discussão... e o respeito não tem a ver com isso.
A formação do gosto se dá pelo processo da discussão, de lapidar a opinião e fica claro que isso envolve o CONHECIMENTO. Quanto mais você sabe, mas você terá probabilidade de enxergar de vários ângulos e sentenciar se algo é bom ou não. Sobre o comentário do filme, isso que falei serve também para ele.