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Nós Duas

(Deux, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Pontuais boas ideias perdidas em execução imatura

5,5

A feitura de Nós Duas deve ter sido um tanto desafiadora para o diretor Filippo Meneghetti, em seu primeiro longa de ficção após lançar curtas-metragens e documentários ao longo da década. Além de mesclar elementos de drama, comédia e suspense, o diretor estreia comandando Barbara Sukowa, musa da fase final do genial diretor alemão Rainer Werner Fassbinder nos filmes Lola e Berlin Alexanderplatz e vencedora de prêmios de atuação em Cannes e Berlim pelos filmes biográficos Rosa Luxemburgo e Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo, respectivamente.

No filme de Meneghetti, a musa do cinema alemão interpreta Nina, uma pensionista que vive um romance há vinte anos com Madeleine (Martine Chevallier, de Não Conte à Ninguém), com quem cresceu junta desde criança, como sugere a cena inicial, e hoje mantém as aparências da família da amada vivendo como vizinha de porta. Madeleine, que vem pensando em contar aos filhos como explicar que mantém uma relação com outra mulher e que não suportava o marido, acaba se acovardando e despertando a fúria de Nina. O filme então estabelece seu conflito principal: Madeleine sofre um AVC e se torna incapaz de falar. Nina, arrependida, passa o resto do filme tentando se conectar com a amada.

Esses momentos em que uma personagem tenta falar com a mulher que ama, apesar de filhos e uma cuidadora a bloquearem de conseguir fazer contato, são o que há de melhor no filme, pois Meneghetti flerta com o suspense da situação e até com alguma frequência resvala no humor, quando mostra Nina se escondendo em banheiros, se esgueirando de madrugada e pregando peças para que não só consiga falar com Madeleiene, mas também afastar a profissional designada por vigiá-la. São momentos que, de certa forma, suavizam a trama.

De outro lado, essa mesma trama está cheia de lugares comuns de filmes sobre homofobia e também sobre a terceira idade: não falta nem o parente unidimensional ressentido, no caso, o filho, que acusa a mãe de não gostar do pai. Como o personagem só aparece pontualmente, fica parecendo apenas um estorvo, um bloqueio para a felicidade de uma personagem que, mostrando a jornada, nos importamos. E dá-lhe cenas com brigas, escândalos e vexames que, sumariamente, são resolvidos de forma maniqueísta, pois na maioria das vezes o roteiro quer nos mostrar que se tratam de pessoas evidentemente erradas contra pessoas evidentemente certas.

Figuras como Anne, filha de Madeleine, mostram que poderia haver tanto um misto de revolta quanto amor, do confronto nascido entre choque e compreensão. A personagem de Léa Drucker (Custódia) é subexplorada pelo roteiro, mas talvez seja a personagem da trama que mais chegue perto de qualquer complexidade, já que a protagonista Nina comete erros e coisas um tanto ilegais, mas recebe um perdão pelo roteiro "em nome do amor".

Com isso, apesar de mostrar certo talento para as filmagens, sabendo resolver suas interações com comédia e suspense (como a questão das portas dos apartamentos e as expectativas que geram), Meneghetti é ainda, na maior parte, esquemático ao resolver um "dramão" para suas personagens, com o final em suspenso parecendo até um esgotamento de possibilidades. Boas ideias aqui e ali, mas dá para sentir que faltou certa maturidade para o diretor, que não se mostra à altura de lidar com a complexidade do material ou do elenco que tem em mãos - Sukowa está em um papel ativo e exigente, que normalmente não vemos atrizes de sua idade performarem, mas a bem da verdade, analisando o resultado final, ainda parece pouco.

Crítica da cobertura do 21º Festival do Rio

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